Floresta de mutantes

 


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Aspecto de planta de eucalipto geneticamente modificada e cultivada in vitro (fotos: Regina Quisen).

Uma espécie de eucalipto tolerante a metais pesados está prestes a ser obtida com o auxílio de técnicas de transgenia (que permitem introduzir genes de outro indivíduo no genoma de um organismo). O feito se deve ao esforço de pesquisadores dos departamentos de Botânica e Fitotecnia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), liderados pela professora Marguerite Quoirin. “Futuramente a espécie poderá ser plantada em áreas contaminadas por resíduos industriais e, ao absorver esse material, deverá auxiliar na recuperação do solo”, diz Quoirin.
 
No âmbito de suas pesquisas com plantas transgênicas, o grupo tem se concentrado na obtenção de espécies de eucalipto resistentes à poluição pelo fato de elas apresentarem crescimento rápido e por longo período. Há ainda interesse em investir no estudo do eucalipto em virtude de seu grande valor econômico.
 
A introdução de genes em vegetais se faz geralmente por meio de dois processos. Pode-se utilizar uma bactéria (chamada agrobactéria) com capacidade de passar os genes desejados para determinada célula. Os fragmentos de DNA são introduzidos na bactéria, que é posteriormente inoculada na planta. No processo direto, os novos genes são introduzidos com o auxílio de aparelhos. Uma espécie de pistola lança micropartículas recobertas de DNA na célula, e o gene acaba se incorporando ao genoma da planta.
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Clones de eucalipto obtidos in vitro no Laboratório de Micropropagação Vegetal da UFPR

Como essa alteração gênica repercute em todo o metabolismo da planta, são feitos vários testes para analisar os efeitos secundários. Por segurança, inicialmente as espécies são cultivadas apenas in vitro.   

 
As pesquisas são desenvolvidas no Laboratório de Micropropagação Vegetal da UFPR, que completou 20 anos em maio passado. O laboratório, que no início se dedicava exclusivamente ao estudo da propagação de plantas a partir de pequenos fragmentos (gemas e células), acabou por se tornar um importante centro de pesquisa em biotecnologia vegetal no Sul do país. Ali, outras equipes se dedicam ao melhoramento de plantas frutíferas, condimentares e ornamentais.
Além de trabalhar com o objetivo de obter espécies resistentes à poluição, a equipe busca também meios de desenvolver plantas que tolerem baixas temperaturas e geadas – de grande interesse para a região Sul – e se adaptem ao estresse hídrico. Vale lembrar que as plantas, se comparadas a seres humanos, são muito mais sensíveis a variações ambientais.


Alexandro Kurovski

Especial para Ciência Hoje On-line / PR
19/08/05