Foguetes movidos a parafina

Um novo combustível mais seguro, barato e ambientalmente correto poderá ser usado no futuro em foguetes e outros veículos espaciais. E não se trata de um composto químico raro ou difícil de ser trabalhado. O novo material possui origem prosaica: trata-se da parafina, encontrada nas velas comuns que usamos em casa em dias de falta de luz ou jantares românticos. A agência espacial americana (Nasa) e a Universidade de Stanford (Califórnia) trabalham juntas desde 2001 para avaliar a eficácia do combustível. Já foram realizados mais de 40 testes de queima da parafina.

Foguete que usa o novo combustível a base de parafina é testado no Centro de Pesquisa Ames, da Nasa (fotos: Nasa)

Velas já existem na humanidade há milhares de anos. Mas nunca ninguém havia pensado na idéia de usá-las como combustível para foguetes. Uma vela de parafina pode ser manuseada e trabalhada com poucos riscos. É possível acender dúzias delas em um quarto e permanecer nele por horas, pois não são emitidos gases tóxicos.

A idéia inovadora partiu de Arif Karabeyoglu, da Universidade de Stanford, que conseguiu resolver um dos problemas apresentados pelas velas de parafina — sua lenta combustão. Ele projetou uma câmara onde a parafina queima na presença de oxigênio puro — o ar que nos circunda contém apenas 21% desse gás, o que aumenta em três vezes o tempo de sua combustão normal.

Uma vantagem do uso da parafina em foguetes é que o oxidante necessário para sua combustão (o oxigênio puro, líquido ou gasoso) ficaria separado do combustível. Nos foguetes de combustível sólido atualmente em uso, combustível e oxidante precisam ser misturados antes de embarcarem no foguete, o que aumenta o risco de explosões. Com a separação de combustível e oxidante, foguetes a base de parafina poderão ser melhor controlados, já que será possível desligar e ligá-los em vôo. Os atuais foguetes não podem ser desligados após o início da queima do combustível.

Além disso, a queima dos combustíveis convencionais libera compostos ácidos com o cloreto de hidrogênio e outros elementos nocivos ao meio ambiente. Quando chove, esses compostos poluem e acidificam lagos e a terra, e prejudicam assim a vegetação e os animais. Nos foguetes movidos a parafina os elementos liberados são menos nocivos: vapor d’água e dióxido de carbono.

 

O combustível a base de parafina é menos poluente e explosivo que os usados atualmente (acima, lançamento da última missão do Columbia, em 16/01/03)

Hoje em dia a poluição produzida pelo lançamento de foguetes nem se compara com a de carros e termelétricas a carvão, por exemplo. Mas no futuro, quando mais países e empresas privadas dominarem a tecnologia aeroespacial, poderá ser importante a utilização de um combustível ambientalmente correto.

 

Os testes com o novo combustível continuarão pelos próximos anos. A tecnologia, ainda em fase experimental, precisaria antes de tudo ser adotada durante alguns anos por pequenos foguetes. Mas tudo indica que a parafina poderá abastecer os grandes foguetes da Nasa e se tornar um dos principais combustíveis espaciais do futuro, especulam os cientistas.

 

 

Denis Weisz Kuck
Ciência Hoje on-line
18/03/03

 

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