Fotos e fatos do mundo animal

Um arsenal de câmeras indiscretas, dispostas em florestas tropicais ao redor do mundo, para flagrar detalhes da vida de mamíferos, de roedores a elefantes, em um grande reality show animal. O projeto, liderado pelo ecologista Jorge Ahumada, da Conservação Internacional (CI), resultou na maior análise já feita sobre os efeitos da perda de hábitat no declínio das populações de espécies.

A coleta de dados que deu origem ao estudo, publicado no periódico Philosophical Transactions B, foi feita entre 2008 e 2010 com a ajuda de 420 câmeras e 60 armadilhas fotográficas – que disparam fotos por meio de sensores de presença.

Os equipamentos foram instalados em florestas de Costa Rica, Indonésia, Laos, Suriname, Tanzânia, Uganda e Brasil. A etapa desenvolvida em território brasileiro aconteceu em uma área protegida de Manaus, no Amazonas.

Técnico
Técnico do projeto instala uma armadilha fotográfica na floresta em Volcan Barva, na Costa Rica. (foto: Johanna Hurtado)

O resultado é um gigantesco álbum, com 52 mil imagens que ilustram 105 espécies de mamíferos. Além de closes inusitados do cotidiano animal, as fotos ajudaram na montagem de um catálogo global de características das comunidades de mamíferos, como tamanho do corpo e tipo de dieta. 

Dentre as áreas que fizeram parte do estudo, a Reserva Natural do Suriname Central foi a que apresentou maior diversidade, com 28 diferentes espécies fotografadas. Já na Área Protegida Nacional de Nam Kading, no Laos, foi registrado o menor número: somente 13 espécies.

Áreas maiores, mais diversidade

Segundo o estudo, quanto maior a extensão contínua de floresta protegida, maior a diversidade de espécies encontradas.

Quanto maior a extensão contínua de floresta protegida, maior a diversidade de espécies encontradas

O declínio das populações de mamíferos pôde ser percebido também porque a variedade de tamanhos e hábitos alimentares dos animais em locais onde há caça excessiva ou maior degradação (com áreas fragmentadas de floresta por fatores como conversão de terra e mudanças climáticas) diminuiu em comparação com os registros de florestas tropicais mais preservadas. 

O estudo concluiu, por exemplo, que mamíferos comedores de insetos tendem a desaparecer primeiro em consequência da perda de hábitat, possivelmente por serem altamente especializados em sua dieta.

“Os resultados confirmam o que suspeitávamos: a destruição de hábitat está, aos poucos, minando a diversidade de mamíferos no nosso planeta”, afirma Ahumada.

Macaca nemestrina
A macaca nemestrina, mais conhecida como macaco-rabo-de-porco, é uma espécie vulnerável encontrada nas florestas da Indonésia. (foto: Associação Conservação da Vida Silvestre/ Conservação Internacional)

O projeto vai continuar clicando animais, agora em áreas protegidas de Panamá, Equador, Peru, Madagascar, Congo, Camarões, Malásia e Índia. A ideia, garante Ahumada, é tornar sistemático o monitoramento de mamíferos em diferentes períodos do ano e locais do mundo e fazer dessas informações aliadas no combate ao desaparecimento das espécies.

“Precisamos garantir que os dados cheguem às pessoas que tomam decisões, ou estaremos apenas registrando a extinção desses animais, sem realmente salvá-los”, alerta Ahumada. 

O projeto é uma parceria do Programa de Ecologia, Avaliação e Monitoramento de Florestas Tropicais da CI com o Jardim Botânico do Missouri (Estados Unidos), o Instituto Smithsonian e a Associação Conservação da Vida Silvestre.

Clique aqui para ver mais fotos do estudo

 

Juliana Tinoco
Especial para Ciência Hoje On-line/ SP