Frente contra a sigatoka-negra

Detalhe de uma folha de bananeira atacada pela sigatoka-negra (Foto: A. Maccari Jr. – Departamento de Solos e Engenharia Agrícola/ UFPR).

Detectada no Brasil em 1998, no Amazonas, a sigatoka-negra, a mais grave doença dos bananais, já chegou ao Sul do país. Em junho de 2004, foi identificada em São Paulo e, dois meses depois, no município paranaense de Andirá. Para enfrentar o problema, que afeta a principal atividade agrícola familiar do litoral norte do Paraná, pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR) e da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) trabalham ao lado de agricultores com o objetivo de desenvolver técnicas de manejo, aplicáveis a pequenas propriedades familiares, que mantenham a sigatoka em níveis que não comprometam a produção.

A iniciativa, que se estendeu a 100 propriedades rurais, priorizou a transição da agricultura química para a agricultura ecológica, visando combater a sigatoka e outras doenças que atacam as plantações. Além disso, buscou resolver dificuldades para a inserção da bananicultura orgânica no mercado comercial. A frente de trabalho se concentrou nas Áreas de Proteção Ambiental (APAs) dos municípios de Guaraqueçaba, Antonina e Morretes.

Causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis , a sigatoka-negra se caracteriza pelo aparecimento de manchas escuras nas folhas da bananeira, que provoca a queima ou morte prematura da folhagem e prejudica a produção. Vários métodos podem ser empregados para controlar a doença, entre eles o uso de cultivares resistentes ao fungo que a provoca (controle genético). A incidência e a gravidade da sigatoka também podem ser reduzidas a partir do manejo do bananal, como espaçamento do plantio, poda de folhas queimadas, drenagem do solo e capina.

A maioria dos agricultores do litoral norte paranaense, sobretudo nas áreas mais distantes e pobres, se dedica ao cultivo da banana e está com seu meio de vida ameaçado pela doença. Seu surgimento na região está associado à vizinhança com São Paulo. Segundo o agrônomo Roberto Tomaz, da Seab, a proximidade das lavouras paulistas favorece a disseminação do fungo pelo vento. “Já se detectou a presença de esporos do agente causal a até 40 Km de uma lavoura afetada”, diz Tomaz. O transporte de cachos, folhas ou mudas de áreas contaminadas para regiões livres da doença também pode ter relação com a entrada da sigatoka no Paraná.

Monitoramento
Entre a primavera e o verão, o litoral paranaense apresenta condições climáticas ideais para a proliferação da doença: temperaturas de 22ºC a 28ºC e umidade relativa do ar entre 90% e 100%. O patógeno age com rapidez, e a planta, desfolhada, não consegue produzir nutrientes para o crescimento do fruto. “O número insuficiente de folhas sadias reduz a área fotossintética da planta”, explica Tomaz. Os prejuízos variam conforme a gravidade da doença, podendo ser totais.

Bananal paranaense comprometido pelo avanço da sigatoka-negra (Foto: R. Tomaz – Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento/ PR).

As técnicas de manejo foram definidas a partir de experimentos realizados em quatro propriedades do litoral norte do estado. Em cada área foram feitas análises de solo e avaliação dos nutrientes necessários para a revitalização do plantio. Os tratamentos com adubação orgânica foram diferenciados: uma área recebeu potássio; outra, potássio e fósforo; a terceira, potássio, fósforo e micronutrientes; a quarta área (chamada de testemunha) foi mantida inalterada. “O resultado dos tratamentos poderá ser avaliado de modo mais concreto na safra 2006/2007, quando será possível quantificar os efeitos na ocorrência da doença, no desenvolvimento da planta e na qualidade da fruta”, afirma o agrônomo Agenor Maccari Jr., do Departamento de Solos e Engenharia Agrícola da UFPR.

Os cachos que serão colhidos no próximo ano terão se desenvolvido em ambiente diferente do das colheitas anteriores, em função de cada tratamento, e deverão revelar os efeitos do experimento. Mas, para isso, lembra Maccari, é preciso que os produtores manejem adequadamente os bananais, adotando as medidas preconizadas.

O projeto também editou a cartilha Bananicultura no litoral do Paraná , elaborada por pesquisadores, profissionais da extensão e agricultores. Ao expor de modo simples as principais técnicas de manejo (propagação, nutrição, adubação), a publicação pretende ajudar os agricultores envolvidos no plantio de banana a manter sua área de produção saudável e em condições de produzir safras economicamente viáveis.

Renata Ortega
Especial para CH On-line/PR
05/12/2006