O bagaço e a casca de frutas descartadas podem ser novas fontes de proteína. Pesquisadores da Universidade de Mogi das Cruzes (SP) coordenados pela bióloga Elisa Esposito descobriram que o acréscimo de fungos a restos de frutas (como nêsperas e maçãs que iriam para o lixo) dobrou a concentração protéica do alimento. Essa transformação de resíduos agrícolas em suplemento nutricional (bioconversão) pode ser mais uma alternativa para combater a fome e a desnutrição no país.
A região de Mogi das Cruzes produz cerca de 4 toneladas anuais de nêsperas
Segundo Elisa Esposito, a idéia é produzir um tipo de farinha para consumo independente ou associado ao de outros alimentos. Ela já havia feito um experimento semelhante na Universidade Federal de Santa Catarina em 1998. A partir do bagaço de maçã, ela obteve uma farinha com aspecto de aveia e cheiro e gosto de nozes. Já em Mogi das Cruzes, ela utiliza nêsperas. Na região desse município, produzem-se quatro toneladas da fruta por ano. A pesquisadora optou por nêsperas porque o desperdício na colheita é de 30%. No entanto, a bioconversão se aplica a qualquer tipo de resíduos.
Para aumentar o teor protéico dos resíduos alimentares, a equipe usou a levedura Candida ulitis (conhecida por seu alto conteúdo protéico e vitamínico) e o fungo Pleurotus ostreatus . As nêsperas impróprias para consumo foram trituradas e esterilizadas a 121º C por 15 minutos, para depois serem fermentadas pelos microrganismos.
Após esse processo, a equipe analisou o teor de proteína, açúcares redutores, ácidos nucléicos e toxicidade dos frutos, para determinar os parâmetros de temperatura, pH e oxigenação durante a fermentação dos resíduos. A nêspera, por exemplo, apresenta resíduos ricos em açúcares simples (sucrose e frutose) e pobre em proteínas e sais minerais. Os fungos vão reduzir essa quantidade de açúcares e contribuir para a formação de proteínas ao disponibilizar fontes de nitrogênio e de vitaminas.
De acordo com Elisa Esposito, esses microorganismos ocorrem em grande número em resíduos de alimentos, despejos e subprodutos industriais. Eles se reproduzem muito rápido, produzem grande quantidade de proteína e contêm todos os aminoácidos essenciais. A levedura Candida utilis tem sido empregada na biotransformação de detritos agrícolas como bagaço da cana-de-açúcar, sabugo de milho, palha de arroz e cascas de banana.
O Brasil já exporta alguns excedentes de produção, como o farelo de soja. Outros subprodutos, como os farelos de arroz, trigo e mandioca, por exemplo, são empregados apenas na alimentação animal. A bióloga acredita que a bioconversão deve ser aplicada em larga escala, sobretudo entre os produtores agrícolas, de maneira que possam otimizar o aproveitamento de alimentos no país. “O Brasil é um grande produtor de resíduos agrícolas que ainda são muito pouco aproveitados.”
Aline Pereira
Ciência Hoje on-line
06/08/01