Guaraná retarda avanço do câncer

 


Ilustração botânica do guaraná (Paullinia cupana). Imagem: Koehler’s Medicinal-Plants .

As sementes de guaraná, planta originária da Amazônia, podem impedir a proliferação de células cancerosas e o desenvolvimento de tumores, de acordo com pesquisa da Universidade de São Paulo (USP). Camundongos alimentados com essa planta tiveram diminuição de 54% na quantidade de células cancerosas associadas a um tipo de câncer de mama chamado tumor de Ehrlich, o que retardou a progressão da doença e aumentou significativamente a sobrevida dos animais.

Os efeitos quimiopreventivos e terapêuticos do guaraná começaram a ser estudados em 2001 pelo veterinário Heidge Fukumasu, no Laboratório de Oncologia Experimental e Comparada da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, durante sua graduação. Sua orientadora, Maria Lúcia Zaidan Dagli, estudava os benefícios de plantas, entre elas, o chá verde, no combate ao câncer. “Como os níveis de cafeína e os compostos polifenólicos presentes no chá verde poderiam ser os responsáveis por seu efeito anticancerígeno, procuramos uma planta brasileira que tivesse níveis semelhantes dessas substâncias e chegamos ao guaraná”, conta Fukumasu.

As primeiras pesquisas do veterinário mostraram que, depois de seis meses alimentados com guaraná, camundongos com tumor de fígado apresentavam menos células cancerosas do que os que não haviam ingerido a planta. Posteriormente, ao realizar um novo experimento em camundongos com melanoma (um tipo de tumor de pele), o pesquisador percebeu que o guaraná diminuía a proliferação celular e induzia a morte das células tumorais.

Estudo feito em camundongos com tumor de Ehrlich mostrou que o animal tratado com guaraná (à direita) teve seu volume abdominal reduzido em relação ao do que não recebeu tratamento (à esquerda), o que significa menor desenvolvimento tumoral (foto: Heidge Fukumasu).

Em sua pesquisa de doutorado, Fukumasu investigou os efeitos do guaraná sobre a progressão de tumores de Ehrlich, um tipo de tumor de mama de camundongos. Os resultados comprovam que o processo de proliferação das células cancerosas é desacelerado quando os camundongos são alimentados com guaraná por sete dias antes de terem o câncer induzido pelos cientistas e mais 14 dias após o estabelecimento da doença.

Depois de quantificar as células cancerosas dos animais nutridos com guaraná e do grupo controle, que consumia apenas água, a equipe constatou também a diminuição do volume abdominal desses camundongos, o que está associado ao menor crescimento tumoral. Parte do inchaço nessa área do corpo deve-se ao intenso processo inflamatório e à conseqüente dilatação e danificação dos vasos sangüíneos provocados pelo crescimento do tumor.

O pesquisador pretende dar continuidade ao estudo a fim de conhecer a que substância do guaraná esse efeito preventivo é atribuído e como ela atua nas células. Ele planeja uma parceria com outros institutos para realizar testes em seres humanos no futuro. “Por enquanto, observamos esses efeitos em animais. Há um longo caminho para entender como isso se dá na complexidade do metabolismo humano e em outras espécies”, conclui.

Fabíola Bezerra
Ciência Hoje On-line
14/08/2007