Morcegos dormem de cabeça para baixo, certo? Nem sempre. Prova disso são as duas únicas espécies representantes da família Myzopodidae, que dormem em pé. Atualmente restritos à ilha africana de Madagascar, esses animais descendem de ancestrais que viviam no continente e cujos fósseis foram descobertos recentemente. O material, encontrado na depressão de Fayum, no Egito, levou à descrição de duas novas espécies – já extintas – da mesma família.
De acordo com o estudo, publicado na revista PLoS One, uma das espécies viveu há 37 milhões de anos, enquanto a outra, há 30 milhões.
Apesar da semelhança com os morcegos de Madagascar, os fósseis encontrados foram descritos como novas espécies depois que os cientistas perceberam diferenças nos tamanhos e formatos dos dentes. “Notamos detalhes como um terceiro molar mais curto e um quarto molar maior em comparação aos morcegos de Madagascar, o que fez a diferença na hora de classificá-los como novas espécies”, afirma o paleontólogo e coautor da pesquisa Gregg Gunnell, da Universidade Duke, nos Estados Unidos.
Assim como os exemplares de Madagascar, esses animais tinham almofadas adesivas nos polegares e calcanhares, característica que dividem apenas com membros da família Thyropteridae, que vivem na América do Sul.
Segundo Gunnell, as almofadas adesivas servem para que os morcegos se agarrem à superfície de folhas muito lisas. “Eles normalmente ficam presos às folhas da palmeira, onde costumam dormir e caçar”, explica.
Os pesquisadores, no entanto, ainda não sabem por que os morcegos da família Myzopodidae têm o hábito de dormir em pé. “Deve haver alguma vantagem, mas não conseguimos descobrir”, diz Gunell.
Para o paleontólogo, os primeiros morcegos a habitarem a Terra provavelmente dormiam de cabeça para cima. “Eles não tinham asas e se apoiavam nos braços e pernas. Depois, os braços ganharam uma pele extensa, que os cobriu formando asas, levando os morcegos a se apoiarem somente nos pés”, completa.
Do continente para a ilha
O achado dos fósseis no Egito sugere que os ancestrais dos morcegos que habitam a ilha de Madagascar surgiram no continente. O paleontólogo acredita que correntes oceânicas tenham carregado pedaços de vegetação entre 55 e 33 milhões de anos atrás e os morcegos do continente tenham voado de uma vegetação para outra, chegando à ilha em algum momento.
Gunnell acrescenta que o ambiente onde esses morcegos ancestrais viviam era bem diferente do deserto em que seus fósseis foram encontrados. “Havia grandes rios e florestas, o que tornava o local muito propício para esses animais, que se alimentavam de insetos”, completa.
Mariana Rocha
Ciência Hoje On-line