Homo sapiens: cronicamente inviável?

 

 No final do século 18 o demógrafo britânico Thomas Malthus (foto – 1766-1834) formulou uma teoria segundo a qual a humanidade necessitava garantir um controle populacional que impedisse sua extinção. Segundo ele, a produção de alimentos, que cresceria em escala aritmética, não bastaria para nutrir a população, que aumentaria em escala geométrica.

null Mais de duzentos anos depois, dois cientistas americanos chegaram a uma conclusão similar: a humanidade talvez seja insustentável. No entanto, os argumentos utilizados são diferentes: a dupla analisou dados estatísticos sobre a interação entre humanos e ecossistemas.

Larry Hobbs e Charles Fowler, do Laboratório Nacional de Mamíferos Marinhos dos EUA, retomam o debate sobre a sustentabilidade da humanidade em artigo publicado na revista britânica Proceedings of the Royal Society . A comparação de características do Homo sapiens com as de outras espécies de

mamíferos, peixes e aves aponta para um futuro pouco animador para o homem.

A dupla calculou probabilidades estatísticas de normalidade para diversas variáveis — como tamanho da população, consumo de biomassa e energia ou produção de gás carbônico. Para cada uma, foram determinados os ‘intervalos de confiança’, que representam uma faixa que compreende a maioria (de 95% a 99%) dos casos. A ocorrência de medidas fora desses limites é considerada anormal.

“Nota-se, por exemplo, que a temperatura média do corpo humano varia entre 36 o C e 37,5 o C”, explica Fowler à CH On-line . “Quando a temperatura de um indivíduo está abaixo ou acima desse ‘intervalo de confiança’, podemos afirmar que o quadro é patológico.” E para os parâmetros de espécie, como tamanho da população ou consumo de biomassa, o H. sapiens seria um paciente bem problemático.

Os pesquisadores avaliaram se grupos humanos em um dado ecossistema estariam dentro da normalidade, definida em relação a espécies de animais da mesma região. A comparação foi feita com 31 grupos; em apenas um caso os índices encontrados não eram significativamente diferentes do ‘intervalo de confiança’. Tal exceção foi observada no consumo de biomassa de uma colônia de pescadores em um ecossistema da costa norte do EUA, quando comparado com o de peixes e aves marinhas.

“Os números mais alarmantes que encontramos se referem à quantidade de indivíduos da espécie”, diz Fowler. “A superpopulação é a mais grave doença da humanidade. Devemos combatê-la para que índices diretamente relacionados, como consumo de energia, biomassa e produção de CO 2 possam ser reduzidos”, defende. Ele ressalta que os dados devem ser considerados também na esfera de cada indivíduo, e não só no âmbito da espécie, pois assim enxergamos que as mudanças estão a nosso alcance.

Fowler acredita que a importância do estudo está em chamar a atenção para um problema que afetará diretamente a qualidade de vida das próximas gerações. “A crise de extinção de espécies que enfrentamos agora está diretamente ligada ao nosso modelo patológico de desenvolvimento. Devemos problematizar a sustentabilidade humana para encontrar soluções para nossos obstáculos.”

Julio Lobato
Ciência Hoje On-line
08/12/03