A troca de conhecimentos e experiências é fundamental para o avanço da ciência. Sem a colaboração entre pesquisadores, tanto em nível nacional quanto internacional, dificilmente é possível fazer ciência de excelência e promover a inovação. Com o objetivo de facilitar a cooperação científica na área de saúde entre cientistas brasileiros e europeus, foi realizado em junho na Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, um evento para apresentar oportunidades oferecidas pelo maior programa de financiamento de pesquisa do mundo.
Trata-se do Horizonte 2020 (H2020), programa da União Europeia (EU) que dedica mais de 80 bilhões de euros para financiamento de projetos de pesquisa e inovação. A iniciativa tem duração até 2020 e destina-se não só aos europeus, mas a toda a comunidade científica ao redor do mundo.
Veja vídeo (em inglês) para saber como funciona o Horizonte 2020
Durante o evento, organizado pelo projeto EU-LAC Health (iniciativa da Comissão Europeia para apoiar a pesquisa cooperativa na área da saúde entre UE, América Latina e Caribe) pela Euraxess (que estimula a colaboração científica entre a Europa e outros continentes) e pela Fiocruz, foram apresentadas não apenas as oportunidades oferecidas pelo Horizonte 2020 na área de saúde, mas também informações práticas sobre como participar do programa. O workshop contou com a participação de representantes da UE, de membros de fundações de apoio à pesquisa e de pesquisadores da Fiocruz e de outras instituições.
Guia de mobilidade
Um dos palestrantes do workshop foi Charlotte Grawitz, representante no Brasil da Euraxess, iniciativa que visa à mobilidade e ao desenvolvimento da carreira de pesquisadores, ao mesmo tempo em que promove a colaboração científica entre a Europa e o mundo.
A Euraxess Brasil fornece informações de qualidade e adaptada aos brasileiros, o que facilita muito a vida dos pesquisadores na hora de dar um passo internacional na sua carreira. “No Brasil, ajudamos os pesquisadores a encontrar meios de tornar seus projetos realidade, graças ao portal Euraxess Jobs & Funding, onde há milhares de ofertas de trabalho e bolsas em todas as áreas do conhecimento”, esclarece Grawitz.
Além disso, ela ressalta que os pesquisadores e suas famílias podem contar com o apoio dos Centros Euraxess para prepará-los para a sua estadia na Europa e guiá-los no país que vai lhes acolher.
Com os recentes cortes de recursos para ciência no Brasil, o interesse dos pesquisadores brasileiros em desenvolver uma carreira na Europa aumentou. “Os jovens pesquisadores, que muitas vezes tiveram uma primeira experiência no exterior graças ao programa Ciência sem Fronteiras e notaram os efeitos positivos no desenvolvimento de suas carreiras, buscam novas oportunidades”, explica Grawitz.
A representante da Euraxess no Brasil salienta também que a Comissão Europeia, por meio das ações Marie Sklodowska Curie (MSCA), um outro programa de apoio à pesquisa, oferece oportunidades de formação de qualidade, em que o desenvolvimento do conhecimento acontece junto com o de habilidades complementares, como comunicação científica e gestão de equipe, o que contribui para que a oferta europeia seja muito bem-sucedida.
Mas a colaboração entre pesquisadores do Brasil e da UE não desperta o interesse apenas dos brasileiros. “A inserção do Brasil no cenário científico internacional fez com que os europeus tivessem oportunidade de ver que os pesquisadores brasileiros têm muito para oferecer”, acrescenta Grawitz.
Aproximação valorizada
No workshop, os pesquisadores também puderam conhecer melhor o Incobra, um projeto do H2020 que também visa ao fortalecimento da cooperação científica e tecnológica entre o Brasil e a UE.
“As atividades que o Incobra desenvolve contribuem para aproximar os atores de pesquisa e inovação brasileiros e europeus, para que possam trabalhar mais em conjunto – por meio da mobilidade ou de projetos conjuntos”, explica André Barbosa, consultor sênior da Sociedade Portuguesa de Inovação, empresa que coordena o Incobra.
Em relação ao panorama geral das colaborações entre o Brasil e a União Europeia, Barbosa ressalva que a iniciativa tem estado mais do lado europeu, ou seja, é maior o número de cientistas europeus que contatam instituições brasileiras para futuras colaborações do que o inverso. “No entanto, há grande consideração pela importância da cooperação UE-Brasil em pesquisa e inovação em ambos os lados. E existem esforços, inclusive políticos, para se tentar superar as barreiras que ainda persistem a essa colaboração”, adianta o consultor.
Segundo Barbosa, ciências marinhas, energia (sobretudo energias renováveis e, mais concretamente, biocombustíveis), tecnologias da informação e comunicação, agricultura e bioeconomia são as áreas científicas onde há mais cooperação entre o Brasil e a União Europeia.
Entre as próximas oportunidades, ele destaca que, em setembro, o Incobra vai lançar uma chamada para a constituição de redes bilaterais de cooperação, em que serão selecionados consórcios (entre entidades brasileiras e europeias) para receber apoio técnico na preparação de um projeto a ser submetido a financiamento do Horizonte 2020.
Margarida Martins
Instituto de Medicina Molecular (Lisboa/ Portugal)
Especial para CH On-line