Indicadores sociais determinam permanência no poder

          

A perspectiva de um partido se manter no poder pode estar associada aos indicadores sociais da população, segundo indica um estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP). Para entender melhor a dinâmica das eleições estaduais brasileiras, a economista Rita de Cássia Libanio analisa o desempenho dos partidos durante os pleitos de 1982 a 1998 sob o prisma das variáveis sócio-econômicas dos estados.

null Uma das conclusões da pesquisa, desenvolvida pela economista em seu mestrado, é que variáveis como tamanho da população rural ou o índice de pobreza dos estados seriam determinantes no resultado das eleições para governador.

Para avaliar a probabilidade de permanência de um partido no poder, Rita adotou três modelos econométricos diferentes. O ano de 1982, em que se realizou a primeira eleição com os partidos criados em 1979, após o fim do bipartidarismo, foi escolhido como ano base. A partir daí, Rita observou nos resultados das eleições estaduais quando um partido permanecia no poder ou quando essa mesma sigla estava presente na coligação da candidatura à sucessão.

Esses dados foram comparados aos indicadores sociais do período estudado, fornecidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo IBGE. As variáveis sócio-econômicas escolhidas foram divididas em seis grupos: renda, infra-estrutura, ativos (inclui de eletrodomésticos a tamanho médio das casas), setor econômico (indústria, serviço ou agricultura), educação, desemprego e pobreza/desigualdade.

Os resultados indicam que, nos estados em que aumentou a escolaridade do chefe de família, a chance de um partido permanecer no poder era maior. O mesmo se verificou com relação à proporção da população trabalhando na agricultura. “Nas áreas rurais, haveria maior dificuldade de se obter informações sobre todos os candidatos, o que facilitaria a manutenção do mesmo partido no poder”, sugere Rita.

Outras variáveis, como escolaridade dos jovens e desigualdade social, se mostraram significantes apenas no terceiro método de análise. “Esse modelo, que controla as características específicas de cada estado, parece levar a resultados mais corretos”, disse Rita. Isso indica que as características específicas dos estados têm um papel importante no comportamento do eleitorado.

“Com o terceiro método, as influências estimadas das variáveis educação dos jovens e pobreza são relevantes para a probabilidade de manutenção de poder”, acrescenta a economista. Assim, quanto maior a escolaridade de jovens de 10 a 15 anos e menor o nível de desigualdade social, maior a probabilidade de reeleição.

Uma margem de erro que variou de 5 a 10%, a depender da variável analisada, foi adotada na pesquisa. Além disso, a motivação ideológica do voto não foi considerada, devido à insuficiência de dados sobre a questão no eleitorado brasileiro. “Como todo modelo, esse é uma simplificação da realidade que não descreve completamente os fenômenos sociais com todas as suas complexidades”, pondera Rita.

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
03/10/03