Informação em uma gota de sangue

A dengue, transmitida pelo mosquito Aedes aegyptii (foto), é uma das doenças que podem ser identificadas pelo novo método de diagnóstico (foto: USDA).

Um novo tipo de teste diagnóstico é capaz de detectar diversas doenças infecto-contagiosas em poucos minutos e a partir de uma pequena quantidade de sangue. Adaptado por uma tecnologia já existente no Brasil, o método é capaz de identificar ao todo sete doenças: malária, dengue, rubéola, leptospirose, tuberculose e leishmaniose tegumentar e visceral.

Diferentemente dos métodos convencionais, a imunocromatografia não exige a presença de especialistas e de equipamentos para a realização do diagnóstico, o que reduz o custo do processo e torna possível a realização de exames epidemiológicos em regiões carentes. A técnica deve permitir identificar doenças com mais rapidez, prevenindo doenças e aumentando as chances de recuperação dos pacientes.

O desenvolvimento do teste é realizado pelo consórcio feito entre as Universidades Federais de Minas Gerais (UFMG) e de Goiás (UFG) e a empresa paulista Biotecnologia Industrial (BTI). Segundo o bioquímico Alfredo de Miranda Góes, coordenador da pesquisa no Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, “a imunocromatografia serve como um método de triagem [identificação e seleção de pacientes] para regiões que não dispõem de postos de saúde, como algumas localidades da Amazônia”. Góes acrescenta que a técnica também pode ser adotada na identificação de doenças entre doadores de sangue, em inquéritos populacionais e na prevenção de doenças transmitidas de gestantes aos fetos.

O procedimento usado no novo método de diagnóstico é semelhante ao realizado em fitas de testes de gravidez. Uma pequena quantidade do sangue do paciente é colocada sobre uma membrana de nitrocelulose, impregnada de proteínas que mobilizam facilmente a reação do anticorpo ao antígeno e que contém, além de outros reagentes, os antígenos específicos de cada doença. Em seguida, um anticorpo marcado para servir como corante é adicionado à reação, de maneira que a fita mude de cor caso o paciente tenha uma das doenças detectáveis pelo teste.

Um mesmo kit diagnóstico que utiliza a imunocromatografia pode ser empregado na detecção de uma ou mais doenças. Para isso, é necessário impregnar a membrana de nitrocelulose com os antígenos específicos das doenças a serem identificadas e em seguida os anticorpos responsáveis pela coloração da reação.

Diagnóstico rápido
A técnica brasileira apresenta vantagens em relação ao método Elisa, comumente utilizado no diagnóstico de doenças infecciosas. A imunocromatografia não depende de instalações específicas, enquanto o Elisa requer diversas etapas metodológicas elaboradas de análise sangüínea, que só pode ser feita em laboratórios bem equipados. Essa análise leva cerca de quatro horas para ficar pronta, a um custo que vai de 100 a 300 reais. O método brasileiro, por sua vez, permite obter um diagnóstico em dez minutos ou menos, por um custo máximo de 30 reais, se utilizado apenas para identificar uma única doença.

No entanto, Alfredo Góes ressalta que testes como o Elisa não devem ser descartados. “A técnica que desenvolvemos é qualitativa e não quantitativa, ou seja, conseguimos identificar quais foram os anticorpos acionados pelos antígenos específicos, mas não sabemos dizer a quantidade de anticorpos responsáveis por aquele efeito”.

O método ainda está em desenvolvimento, com perspectiva de introdução no mercado a partir de 2010. Em princípio, ele será comercializado pela BTI, que terá os direitos de produção e de distribuição comercial.

Atualmente, cerca de 80% do material utilizado na produção dos testes é importado. O consórcio entre a UFMG, a UFG e a BIT pretende produzir integralmente no Brasil os antígenos e anticorpos usados na reação. Quando isso acontecer, acredita Góes, não mais serão necessários os processos de readaptação dos testes importados às condições de temperatura e umidade de um país tropical.

No futuro, os antígenos associados a cada doença poderão ainda ser produzidos por técnicas de biologia molecular. “Isso permitirá que os antígenos sejam mais puros do que os utilizados em kits importados e dará ao teste maior precisão”, ressalta o bioquímico. 


Rachel Rimas

Ciência Hoje On-line
06/11/2007