Uma nova estratégia para controlar o colesterol pode surgir de uma descoberta feita por um grupo internacional de pesquisadores. Eles mostraram que o bloqueio da síntese de uma única proteína é capaz de diminuir o colesterol sangüíneo de animais. O feito foi obtido com o uso da técnica conhecida como interferência de RNA (RNAi), cuja descoberta valeu a dois cientistas norte-americanos o Nobel de Medicina de 2006.
Esse método permite que, com a injeção de uma seqüência de RNA, a atividade de um determinado gene seja silenciada (clique aqui para saber mais). No caso, a técnica foi usada para silenciar o gene responsável pela síntese da proteína PCSK9, que controla a quantidade de receptores de LDL.
Por ser um dos alimentos com maior teor de colesterol, o ovo é um dos principais itens cortados nas dietas que buscam reduzir o nível dessa substância no sangue (foto: Sanja Gjenero).
A LDL é uma das lipoproteínas que transportam o colesterol no sangue. Essa substância é vital para os animais e está presente em todas as células do corpo humano, principalmente nas membranas celulares. Como não se dissolve na água, ela é transportada pelo sangue no interior das lipoproteínas LDL, HDL e outras.
Se o colesterol aumenta no sangue, começa a se acumular nos tecidos, principalmente na superfície interna dos vasos, formando agregados duros que podem entupi-los. A LDL – sigla em inglês para ‘lipoproteína de baixa densidade’ – é popularmente conhecida como “mau colesterol” por ter mais facilidade de passar o colesterol para os tecidos.
Os receptores de LDL controlados pela proteína PCSK9 são utilizados pelas células do fígado para retirar o colesterol do sangue. Quando a síntese dessa proteína foi experimentalmente silenciada por RNAi, o número de receptores de LDL aumentou, o que intensificou a captação de LDL pelo fígado e diminuiu o colesterol no sangue dos animais testados no estudo.
A constatação foi feita em experimentos com camundongos e macacos conduzidos pela equipe de Kevin Fitzgerald, do Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT). O grupo mostrou que, dois dias após uma injeção de RNA, o colesterol do sangue de ambas as espécies de animais diminuía cerca de 60% e se mantinha baixo por duas semanas.
Nova arma para baixar colesterol
“Esses achados mostram a validade de se usar a terapia de interferência de RNA para a PCSK9 como uma abordagem para diminuir o colesterol no sangue”, dizem os autores no trabalho publicado na semana passada na revista PNAS. Os tratamentos utilizados hoje se baseiam em exercícios físicos, em dietas e no uso de drogas que impedem que o corpo fabrique colesterol.
“O estudo aponta uma nova estratégia para o controle da quantidade de colesterol no sangue”, reitera a bioquímica Marileia Scartezini, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que também desenvolve pesquisa nesta área. “Os resultados abrem caminho para o desenvolvimento de novos agentes que diminuam a quantidade da proteína PCSK9 com o objetivo de reduzir o colesterol circulante”, reforçam os autores no artigo da PNAS.
Vitor Lima
Ciência Hoje On-line
27/08/2008