Internautas ajudam a monitorar gripe

Acaba de chegar ao Brasil uma iniciativa bem-sucedida na Europa para monitorar a gripe e outras doenças de inverno. O portal Gripenet Brasil (www.gripenet.com.br) vai ajudar pesquisadores a avaliar, com a participação dos internautas, o avanço dessas doenças no país. O portal chega em um momento em que médicos e cientistas do mundo inteiro unem esforços para combater o avanço da gripe suína.

Uma das telas do Gripenet Brasil, portal de monitoramento de doenças de inverno inspirado em uma iniciativa europeia (reprodução).

Podem participar do Gripenet quem mora no Brasil e tem um endereço eletrônico válido. Toda semana, os voluntários cadastrados devem responder a uma mensagem perguntando se tiveram febre ou não. Em caso afirmativo, deve-se preencher um breve questionário que avalia se houve de fato gripe.

O monitoramento ajudará a detectar a intensidade e frequência das epidemias, além de traçar as áreas e perfis mais afetados pela doença.
A ideia de usar a internet para vigiar as epidemias de gripe surgiu em 2003, na Holanda. Logo o projeto foi considerado um sucesso entre o meio científico, e foi lançado também em Portugal, Bélgica, Itália, Reino Unido e México. Hoje, o continente europeu já conta com quase 40 mil voluntários, que atualizam semanalmente os dados que mostram como anda a saúde coletiva.

O portal brasileiro foi criado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com o Instituto Gulbenkian de Ciência, de Portugal. Além de monitorar a gripe e outras doenças de inverno, a iniciativa pretende se tornar um espaço para o debate de ações relacionadas à saúde pública. Será possível acompanhar ali notícias, gráficos e informações sobre as doenças com atualização diária.

Em busca de voluntários
O alcance do Gripenet Brasil ainda é modesto. Por enquanto, a iniciativa conta com apenas 73 voluntários espalhados por 11 estados, com a maioria concentrada no Rio de Janeiro. “É preciso alcançar pelo menos 5 mil participantes para podermos acompanhar as tendências da gripe no país”, avalia a bióloga Cláudia Codeço, pesquisadora da Fiocruz e coordenadora do projeto.

Para estimular a participação, a equipe de pesquisadores procura parcerias com educadores, médicos e outros interessados. “Como o portal é de natureza participativa, estamos abertos para colaborações. Se alguém quiser publicar um trabalho, texto, desenho ou jogo eletrônico sobre a gripe, é só entrar em contato conosco”, garante Codeço.

Os pesquisadores lembram que, como a maioria das pessoas não procura os serviços de saúde quando estão gripadas, é difícil identificar a intensidade das epidemias da doença no país. Outro problema é a semelhança dos sintomas com os de outras doenças, que podem confundir o paciente, caso ele não seja orientado por um médico.

A bióloga alerta para a falta de informação sobre a doença, que ocorre principalmente entre o outono e o inverno e pode ter graves consequências. “A gripe se torna perigosa quando o nosso sistema imunológico não está preparado para eliminar o vírus em tempo hábil, e ele acaba por causar uma pneumonia viral”, informa.

Gripe suína

O avanço do vírus influenza A de subtipo H1N1, causador da gripe suína, tem preocupado autoridades de saúde em todo o mundo (foto: CDC Influenza Laboratory).

O Gripenet Brasil surge em um momento importante, em que todo o mundo tenta coletar mais dados para monitorar a disseminação do vírus influenza A de subtipo H1N1, causador da chamada gripe suína. “A agilidade do sistema torna-se mais importante ainda nesse contexto”, ressalta a bióloga. “É preciso conhecer o que está acontecendo a cada dia, em cada ponto do país”.

Codeço explica que todos os anos surgem diversas variantes do vírus influenza A, causador da gripe comum, que podem ir desde pequenas alterações no material genético do vírus, até grandes recombinações. Mas a cada 30 anos, em média, surgem vírus completamente novos, vindos de animais, como as aves e os suínos. Se eles forem facilmente transmitidos entre humanos, têm o potencial de causar uma pandemia, como pode acontecer com o vírus A (H1N1).

A bióloga lembra que, com o tempo, esses vírus pandêmicos se tornam “conhecidos” pelo sistema de defesa de nosso organismo e oferecem menos risco à população. Daí a importância de estudar e monitorar o aparecimento de novos vírus: “quanto mais soubermos sobre os vírus que estão circulando, mais eficientemente podemos gerar medicamentos, vacinas e proporcionar a assistência médica necessária para que a gripe seja menos perigosa”, conclui.

Barbara Marcolini
Ciência Hoje On-line
21/05/2009