Leite ecológico

Os produtores de leite poderiam usar o próprio esterco dos animais para a obtenção do biogás, o que reduziria seus gastos com insumos energéticos.

Uma mudança nos sistemas usados para resfriar o leite que será industrializado pode reduzir em até 75% a emissão de gases causadores do efeito estufa, como o metano e o gás carbônico, pelas fazendas leiteiras. Pesquisa realizada na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) propõe a substituição da energia elétrica ou de geradores a diesel por equipamentos que usam gás proveniente da decomposição de matéria orgânica (biogás). A estratégia visa beneficiar pequenos e médios produtores rurais, pois reduz os gastos com insumos energéticos.

Para a obtenção do biogás, os produtores podem usar o próprio esterco dos animais da fazenda. A matéria orgânica, que libera metano e gás carbônico durante sua decomposição, é colocada em equipamentos hermeticamente fechados chamados biodigestores. Dentro deles, a decomposição dos dejetos orgânicos é controlada e ocorre sem a presença de oxigênio, o que impede a formação de gases inadequados para uso como insumo energético. O biogás liberado é então usado para produzir a energia empregada no sistema de resfriamento de leite, um processo essencial para conservar o produto e permitir que ele seja transportado para as indústrias.

O estudo, fruto da dissertação de mestrado do engenheiro mecânico Giancarlo Obando Diaz, sob orientação do professor Flávio Fiorelli, do Departamento de Engenharia Mecânica da Poli/USP, avaliou os benefícios técnicos e econômicos do emprego do biogás produzido por biodigestores no resfriamento de leite. “A instalação dos biodigestores mostrou-se bastante interessante para os pequenos e médios produtores, pois resolve o problema da demanda por energia para resfriamento e tratamento do leite, ao mesmo tempo em que oferece uma forma adequada de tratar os dejetos orgânicos”, destaca Fiorelli. Além disso, os resíduos remanescentes do processamento da matéria orgânica no biodigestor apresentam alta qualidade para uso como fertilizante agrícola.

Os pesquisadores analisaram a viabilidade da instalação de geradores a biogás nas fazendas leiteiras em duas situações diferentes. “Para o produtor que já tem sistema de resfriamento na fazenda, o uso do biogás vai permitir a redução dos custos de produção em função da substituição da eletricidade comprada ou gerada com combustíveis fósseis”, afirma Fiorelli. E completa: “Para um produtor que ainda não dispõe de um sistema de resfriamento, o uso de um equipamento que funciona com biogás tem custo total (instalação e operação) um pouco menor que o de um sistema à base de energia elétrica comprada da rede de distribuição.”

Fiorelli diz ainda que, como o uso de biogás pode reduzir as emissões de gases causadores de efeito estufa nas fazendeiras leiteiras, o produtor que adotar o novo sistema poderia se habilitar para a comercialização de créditos de carbono, conforme previsto no Protocolo de Quioto. Ele acrescenta: “Existe a possibilidade de empresas e investidores financiarem a construção de biodigestores para dividir os lucros da venda de créditos de carbono com o produtor.” 

Rachel Rimas
Ciência Hoje On-line
13/08/2007