Longa vida ao figo roxo

Consumidores do Brasil e de outros países poderão no futuro encontrar nos supermercados um figo roxo com qualidade e aparência semelhantes às da fruta recém-colhida. Sua vida útil pode ser prolongada com a injeção de concentrações específicas de oxigênio e gás carbônico dentro de embalagens de filme plástico. O novo método, desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), vai beneficiar os produtores, que poderão expandir a comercialização da fruta.

O procedimento que possibilita o prolongamento da vida do figo roxo se baseia na injeção de concentrações específicas de oxigênio e gás carbônico dentro de embalagens de filme plástico (foto: Franciane Colares Souza).

O figo roxo tem vida bastante curta: no máximo três dias. Por ter pequena capacidade de amadurecimento após a colheita, ele deve ser retirado da árvore ainda verde, para retardar sua maturação e seu envelhecimento e aumentar seu período de conservação. Como passa por diversas oscilações de temperatura até chegar a seu destino, a fruta começa a apresentar aparência ruim e manchas, além da perda de brilho, aroma e sabor.

“O produto que chega à Europa não é tão atrativo, o que reduz suas chances de comercialização”, afirma o engenheiro agrícola Antônio Carlos Ferraz, orientador da pesquisa que deu origem ao novo método, realizada na Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp.

O procedimento, desenvolvido durante o mestrado da também engenheira agrícola Franciane Colares Souza, baseia-se no uso de um tipo de filme plástico de baixa densidade e na modificação da atmosfera interior da embalagem com a retirada de oxigênio (O 2 ) e adição de gás carbônico (CO 2 ).

Em condições atmosféricas naturais, a concentração de oxigênio é de 20% e a de gás carbônico, de 0,3%. Com a manipulação dos gases feita nos experimentos, o nível de oxigênio na embalagem caiu para 6,5% e o de gás carbônico aumentou para 21%. A diminuição da concentração de oxigênio provoca a redução do nível respiratório do figo e, conseqüentemente, um consumo menor de açúcares e amido durante a fotossíntese, o que confere à fruta maior tempo de conservação.

Acondicionamento
Para alterar a composição da atmosfera ao redor do figo, é preciso primeiramente acondicionar a fruta com o filme plástico e, depois, com uma bomba (semelhante à usada para encher bolas de aniversário), retiram-se parcialmente os gases presentes. Por fim, é colocado em seu lugar a mistura de oxigênio e gás carbônico e a embalagem é então lacrada.

O uso do novo método de acondicionamento reduziu o aparecimento de podridão, a proliferação de fungos e a perda de água das frutas. “Normalmente o figo perde 8% de água após ser colhido. Ao ser submetido a mudanças de temperatura, passou a apresentar apenas 1,5% de perda”, afirma Franciane Colares. “Além disso, os experimentos conseguiram duplicar a vida útil da fruta.”

Segundo Colares, o processo foi testado em quatro variações de temperatura. Para comprovar sua total eficácia, serão necessárias avaliações do comportamento da fruta em outras temperaturas e com outros filmes plásticos. O orientador da pesquisa destaca que, por ser uma técnica de conservação bastante simples, sua adoção pelos produtores não terá um custo alto. “Assim, o figo poderá ser colhido maduro das figueiras, o que contribuirá ainda mais para a manutenção da qualidade da fruta.”

Rachel Rimas
Ciência Hoje On-line
28/11/2007