Luz laser e magnetismo contra o câncer

O combate ao câncer ganha mais um aliado. Trata-se de uma terapia que combina o uso de um novo fármaco com a aplicação de magnetismo e luz laser, que aumentam a absorção das substâncias que atacam as células tumorais pelo organismo. O tratamento, desenvolvido na Universidade de São Paulo (USP), provoca menos efeitos colaterais do que outros adotados atualmente, como a quimioterapia e a radioterapia.

A nova estratégia terapêutica foi investigada pela química Daniela Manfrim de Oliveira em sua tese de doutorado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP. Segundo ela, o grande diferencial do fármaco é a capacidade de responder aos estímulos de duas técnicas usadas atualmente para o tratamento do câncer: a hipertermia e a terapia fotodinâmica.

A hipertermia associa a administração de um fluido com a aplicação de um campo magnético, que promove uma elevação da temperatura das células tumorais capaz de eliminá-las. A terapia fotodinâmica usa luz laser para estimular a liberação de substâncias que atacam as células cancerosas.

“Atualmente, esses dois tratamentos são utilizados separadamente, com resultados satisfatórios”, lembra a pesquisadora, que desenvolveu o estudo sob a orientação do professor Antonio Claudio Tedesco, do Grupo de Fotobiologia e Fotomedicina da FFCLRP. “Mas nossos testes em laboratório mostraram que, quando adotados em conjunto, eles apresentam uma eficácia muito maior para a regressão do tumor”, ressalta Manfrim, que realiza os estudos com a hipertermia em colaboração com um grupo da Universidade de Brasília (UnB).

A capacidade do fármaco de reagir a duas técnicas distintas deve-se à sua composição mista. Ele é constituído por lipossomas (vesículas formadas por camadas lipídicas) que contêm substâncias citotóxicas, capazes de destruir as células cancerosas, e por um fluido magnético. Ao entrar na corrente sangüínea, o fluido segue imediatamente em direção ao órgão doente pela indução de um campo magnético, aplicado sobre o órgão. Esse campo também libera calor e debilita as células tumorais, mais sensíveis a altas temperaturas.

Ao chegar à área afetada, o medicamento é absorvido pelas células tumorais, que reconhecem os lipossomas como nutrientes e os incorporam mais rapidamente, devido ao seu crescimento acelerado. Dentro das células, as substâncias citotóxicas são liberadas pelas vesículas após a aplicação de luz laser sobre o local do tumor. Isso acontece porque o fármaco também tem em sua composição corantes sensíveis à luminosidade. Quando esses corantes entram em contato com o laser, ocorre a ativação e liberação das substâncias.

Tratamento direcionado
Uma grande vantagem do novo fármaco é o fato de ter um sistema de liberação da substância direcionado para o combate às células cancerosas. Com isso, os efeitos colaterais são bem menores. “Enquanto a quimioterapia e a radioterapia matam todas as células do organismo – tanto as saudáveis como as doentes –, deixando-o fragilizado, o medicamento que desenvolvemos ataca diretamente as células doentes”, explica Manfrim.

No entanto, a pesquisadora esclarece que nem todos os tipos de câncer podem ser tratados com a nova abordagem. “Constatamos que o método é mais indicado para tumores internos e localizados, como os que afetam o pulmão, a laringe e a mama”, diz. “Para o caso de câncer externo, como o de pele, há outros tipos de tratamento mais eficientes”, completa. “Além disso, em estágios mais avançados da doença, recomenda-se a utilização conjunta dos métodos tradicionais – a radioterapia e a quimioterapia.”

A nova estratégia terapêutica já foi patenteada. Após o sucesso dos experimentos feitos em células em cultura, a equipe realiza agora testes em animais. “Acredito que daqui a aproximadamente três anos já será possível usar esse tratamento em humanos”, estima Manfrim.

Andressa Spata

Ciência Hoje On-line
14/04/2008