Magnetismo ajuda a conservar alimentos

A boa aparência dos alimentos expostos nas prateleiras é fundamental na hora das compras. Uma alternativa mais barata e eficaz para evitar a rápida deterioração desses produtos está sendo desenvolvida por pesquisadores da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da Universidade de São Paulo (USP). Em vez dos aditivos químicos ou da fermentação, por exemplo, a equipe promete fazer do magnetismo um grande aliado na conservação dos alimentos.

Um equipamento refrigerado que usa pulsos magnéticos de baixa intensidade para conservar produtos alimentícios foi desenvolvido pelo físico Ernane José Xavier da Costa no Laboratório de Física Aplicada e Computacional da FZEA.

Os testes iniciais revelaram que as amostras de carne tratadas com o equipamento demoraram mais tempo para escurecer

Chamado de magneto freezer, o aparelho foi testado em carne bovina pela engenheira de alimentos Patricia Goldschmidt Lins durante seu mestrado. Os resultados iniciais revelaram que as amostras tratadas com o equipamento demoraram mais tempo para escurecer, um sinal de que o processo de deterioração foi mais lento.

“Na literatura científica já existiam pesquisas que determinavam o efeito de campos magnéticos em matérias orgânicas, mas poucas tinham como foco campos magnéticos com intensidade relativamente baixa”, diz Costa.

O equipamento

Magneto freezer
O magneto freezer é uma espécie de refrigerador onde são emitidos pulsos magnéticos que interferem no processo de decomposição da carne. (foto: arquivo do Laboratório de Física Aplicada e Computacional da FZEA)

O magneto freezer é uma espécie de refrigerador que mede 1,5 metros de altura, 45 centímetros de profundidade e 50 centímetros de largura. Uma de suas prateleiras contém um conjunto de bobinas de 20 centímetros de diâmetro cada. “Dentro delas são emitidos pulsos magnéticos que atuam nas enzimas da carne, retardando o processo de oxidação e impedindo que ela escureça”, explica Costa.

A carne escurece naturalmente devido à oxidação da proteína mioglobina, responsável pela coloração do alimento. Ao entrar em contato com o oxigênio, essa proteína se transforma em metamioglobina e adquire um tom amarronzado. Os pulsos magnéticos emitidos pelo magneto freezer interferem nesse processo e mantêm o produto avermelhado e fresco por mais tempo.

“Isso evita o desperdício da mercadoria, porque para o consumidor não basta a carne ter boa qualidade, precisa ter boa apresentação”, comenta o físico.

Testes bem-sucedidos

Para a realização dos testes, as peças de carne foram moídas, colocadas em bandejas de isopor e embaladas em filme plástico – assim como se costuma fazer para a comercialização. Todas foram armazenadas no magneto freezer a uma temperatura de 4 ºC.

Parte das amostras recebeu pulsos magnéticos, em um processo que variou de duas horas até 12 dias. A frequência dos pulsos também variou entre 1 e 30 Hertz (pulsos por segundo). Outros pedaços não sofreram intervenção.

De acordo com os resultados iniciais, as amostras tratadas com pulsos magnéticos tinham menor quantidade de metamioglobina. Além disso, demoravam em média sete dias a mais para escurecer quando submetidas a condições padrões de temperatura (aquelas encontradas nos supermercados e frigoríficos).

“O ideal é submeter a carne ao aparelho por duas horas”

Segundo Costa, os testes mostraram que a carne não deve ficar armazenada no magneto freezer por muito tempo, porque a exposição excessiva da mioglobina ao campo magnético pode “ativar demais” essa proteína e, assim, fazer a carne escurecer mais rapidamente. “Para que a carne demore, em média, sete dias a mais para escurecer, o ideal é submetê-la ao aparelho por duas horas”, diz.

Em relação à frequência dos pulsos emitidos no magneto freezer, os pesquisadores ainda estão verificando se existe uma medida mais apropriada para a conservação da carne. Agora, a equipe irá realizar novos testes para verificar a eficiência do método com amostras de carne embaladas a vácuo e em recipientes que contêm gás inerte e não ar.

Ana Paula Monte

Ciência Hoje On-line