Por trás da facilidade em acender e apagar as luzes de casa está um sofisticado processo de produção de energia que começa (no Brasil, na maioria das vezes) nas hidrelétricas. Essas usinas trabalham a todo vapor, mas periodicamente precisam interromper parte de suas atividades para fazer reparos ou cuidar da manutenção.
Para facilitar o controle e a reparo de estruturas subaquáticas das usinas, uma equipe de pesquisadores do Centro de Pesquisas Hidráulicas e Recursos Hídricos, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), desenvolveu um robô que promete tanto diminuir perdas na produção de energia quanto tornar mais seguro o trabalho que costuma ser feito por equipes especializadas.
Coordenado pelo engenheiro civil Paulo Henrique Vieira Magalhães, o projeto já está a caminho do terceiro protótipo do robô. A primeira versão do veículo era movimentada por um sistema de propulsão a jato d’água, e só permitia visualizar as estruturas da usina – como grades de proteção – por meio de pequenas câmeras instaladas.
A segunda versão é capaz de realizar manutenções como a limpeza das grades de proteção, que impedem a passagem de impurezas para prevenir a obstrução do maquinário. “Na segunda versão, conseguimos permitir que o veículo utilizasse um sistema de jato d’água capaz de realizar a limpeza das grades da tomada de água das usinas”, diz Magalhães.
Esta é uma vantagem em relação ao processo de limpeza atual, que costuma deixar parados alguns dos geradores da usina por até 24 horas. O tempo é necessário para que a grade seja retirada e limpada por funcionários.
O processo também pode ser realizado com ajuda de mergulhadores – que são responsáveis, por exemplo, pela manutenção das turbinas. Mas a atividade é de alto risco e também interrompe parcial ou totalmente o funcionamento dessas estruturas.
Operação de risco
Magalhães ressalta a importância da criação dos robôs diante do perigo que a limpeza e manutenção de turbinas, grades e outras estruturas de uma usina representam para mergulhadores. Já houve mortes em decorrência do procedimento. “Enquanto uma turbina de uma usina é parada para a manutenção, as outras continuam funcionando, tornando perigosa a atividade para o mergulhador”, explica o engenheiro.
Outro inconveniente da manutenção feita por mergulhadores, além do risco, é que esse procedimento leva em média 32 horas, com a geração de energia parcialmente cortada. O veículo desenvolvido pela equipe de Magalhães deverá permitir que algumas manutenções sejam realizadas sem interromper o funcionamento das hidrelétricas.
E ainda estão previstas novidades para o terceiro protótipo do robô, que deverá estar pronto dentro de três anos. “Ele vai funcionar por meio de propulsores a hélice e sistemas de jato d’água, e deverá levar acoplado a seus sistemas um braço mecânico adaptável para o uso de garras, tochas de solda e outras ferramentas empregadas no processo de manutenção”, conta o engenheiro.
O custo do veículo – estimado em R$ 50 mil – deve incentivar a compra do produto por usinas. “Atualmente, empresas como a Petrobras costumam alugar robôs como o nosso por cerca de US$ 100 mil, para desempenhar funções semelhantes”, exemplifica o coordenador.
A diferença é significativa, principalmente pelo fato de esse valor não incluir o que se gasta com mão de obra, passagens aéreas e hospedagem de técnicos estrangeiros. Um sinal de que as pesquisas nacionais não deixam a desejar. “Conseguimos desenvolver algo muito semelhante ao que já existe no exterior, a um custo muito menor. E com tecnologia 100% nacional”, comemora o coordenador.
Debora Antunes
Ciência Hoje On-line