Mais educação, menos diferença salarial

Investimentos em educação no Brasil nas últimas décadas propiciaram uma redução nas disparidades salariais. Com o aumento da escolarização média da população, diminuiu a diferença entre os salários de trabalhadores com mais e menos anos de estudo. Enquanto na década de 1980 cada ano a mais de escolaridade equivalia a uma diferença salarial de 17%, a partir do fim da década de 1990 esse valor caiu para 11% em média.

A conclusão foi apresentada na dissertação de mestrado da economista Priscilla de Albuquerque Tavares, sob orientação do professor Naércio Aquino Menezes Filho, da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP). O estudo estimou o ‘efeito-preço’, que corresponde à diferença salarial paga ao trabalhador para cada ano a mais de escolaridade, e o ‘efeito-composição’, que diz respeito à composição educacional da força de trabalho, ou seja, à desigualdade educacional do mercado de trabalho, medida pela quantidade de pessoas com mais e menos anos de estudo.

A partir de 1998, o aumento da escolarização média acarretou a diminuição da diferença entre os salários de trabalhadores com diferentes níveis de escolaridade (foto: Mary Gober).

Segundo Tavares, entre 1980 e 1993, o efeito-preço e o efeito-composição aumentaram significativamente a defasagem de renda entre os mais e os menos escolarizados. Nesse período, o mercado elevou a remuneração por cada ano a mais de escolaridade e a desigualdade educacional também cresceu bastante. Além disso, a inflação e a queda no valor real do salário mínimo provocaram uma maior disparidade salarial.

Essa defasagem salarial manteve-se estável entre 1993 e 1997, mas começou a cair a partir de 1998. O aumento da escolarização média da população afetou o efeito-preço e levou à diminuição da diferença de valor paga ao trabalhador por cada ano a mais de escolaridade. Assim, reduziu-se a desigualdade de salários nesse período.

Por outro lado, o efeito-composição não teve o mesmo impacto, pois a mudança na estruturação educacional da força de trabalho não foi suficientemente significativa. “Mesmo com o aumento da escolarização média da população, a diferença entre a quantidade de trabalhadores com mais e menos anos de estudo ainda é muito grande”, esclarece Tavares.

Segundo a economista, projeções para os próximos anos apontam que as melhorias em todas as faixas de ensino geradas pelos investimentos atuais acarretarão mudanças mais profundas na composição da força de trabalho. “A maior qualificação dos trabalhadores que entrarão no mercado reduzirá ainda mais as desigualdades salariais a partir de 2012.”

Força de trabalho masculina
O estudo analisou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio (PNAD) coletados entre 1981 e 2006, relativos a homens entre 25 e 60 anos. A avaliação não levou em conta as mulheres, pois elas apresentaram uma mudança de comportamento muito significativa em relação ao mercado de trabalho durante o período estudado. “Houve um aumento no ingresso de mulheres no mercado, o que poderia afetar os resultados. Já os homens mantiveram um comportamento constante”, explica a economista.

Segundo Tavares, a redução das disparidades salariais é um processo sustentável. Nos próximos anos, os novos trabalhadores terão maiores níveis de qualificação, o que proporcionará o aumento do equilíbrio educacional no mercado de trabalho. Ela completa: “O Brasil é ainda um país de desigualdades, mas a redução das diferenças de salários (a maior fonte de renda da população) contribui muito para diminuir as desigualdades sociais.” 

Igor Waltz
Ciência Hoje On-line
29/04/2008