Mais perto da clonagem terapêutica humana

 

Um obstáculo que impedia a clonagem de primatas acaba de ser superado por cientistas americanos. Eles geraram células-tronco embrionárias de macacos resos a partir de células adultas desses animais com o método de transferência nuclear de célula somática. Antes disso, nenhum grupo havia conseguido realizar esse procedimento em espécies com características genéticas tão próximas às do homem.

Imagem do óvulo de macaco-reso antes da retirada do núcleo (enucleação) pela pipeta que aparece à direita (foto: Shoukhrat Mitalipov).

O estudo, publicado hoje na internet na página da revista Nature, representa um passo importante rumo à clonagem terapêutica de embriões humanos – técnica que não tem fins reprodutivos e visa a fabricar células-tronco embrionárias, que podem se transformar em diversos tipos celulares especializados. O resultado pode levar também a avanços no desenvolvimento de novos tratamentos para doenças humanas.

A técnica de transferência nuclear de célula somática usada no estudo consiste em retirar o núcleo de óvulos e fundir esses gametas femininos desnucleados com células da pele (fibroblastos) para a obtenção de células-tronco capazes de se diferenciar. Antes disso, o método só havia sido empregado com sucesso com essa finalidade em camundongos.

A eficiência do método em primatas, no entanto, ainda está longe do ideal. A equipe de Shoukhrat Mitalipov, da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon, conseguiu gerar apenas duas linhagens de células-tronco embrionárias a partir de 304 oócitos (células primárias dos óvulos) retirados de 14 macacos resos, o que equivale a uma taxa de sucesso de apenas 0,7%. O grupo induziu ainda o desenvolvimento desses embriões clonados em sua fase inicial, chamados blastócitos.

Prevenção de fraude
Para ratificar a autenticidade dos resultados obtidos pela equipe de Milalipov, a revista Nature pediu a uma equipe independente da Universidade Monash (Austrália) que verificasse se as células-tronco embrionárias obtidas eram mesmo fruto da clonagem. Por trás do pedido, estava o fantasma da fraude do sul-coreano Woo-Suk Hwang, que anunciou em maio de 2005 na revista Science a obtenção de células-tronco embrionárias humanas. O estudo teve grande repercussão na época, mas descobriu-se posteriormente que os resultados haviam sido forjados.

Os primeiros clones de primatas devem alimentar a polêmica sobre o uso da clonagem terapêutica em humanos. Mas os resultados devem fornecer também uma poderosa ferramenta para o estudo de doenças humanas hereditárias e para o desenvolvimento de novos medicamentos para elas, como destacam Ian Wilmut, um dos criadores da ovelha Dolly, e a geneticista Jane Taylor, em comentário ao trabalho, publicado também na Nature.  

Fabíola Bezerra
Ciência Hoje On-line
14/11/2007