Mais perto da longevidade

 



Dois estudos independentes dão passos importantes rumo ao desenvolvimento de terapias que retardem o envelhecimento em seres humanos – e assim nos aproximem da tão desejada longevidade. Uma substância derivada de bactérias se mostrou eficiente no prolongamento da vida de camundongos, e o mesmo resultado foi alcançado em macacos submetidos a uma dieta de restrição calórica.

Embora não tenham relação entre si, os estudos – publicados esta semana na Nature e na Science – possuem semelhanças além do objetivo comum de prolongar a vida em mamíferos. A substância testada pelo estudo da Nature – um composto chamado rapamycin – age sobre uma proteína responsável pelo envelhecimento das células, e há evidências de que a dieta de restrição calórica iniba a produção dessa mesma proteína.

A pesquisa publicada na Nature é parte de um programa do Instituto Nacional do Envelhecimento (NIA, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, em parceria com mais dois laboratórios norte-americanos. A equipe acompanhou os efeitos da ingestão de cápsulas de rapamycin simultaneamente em camundongos desses três laboratórios a partir do 600º dia de vida dos animais – o que equivale a aproximadamente 60 anos em humanos.

Envelhecimento mais lento
Até então, o rapamycin era usado para prevenir a rejeição de órgãos transplantados, além de ter mostrado eficiência no prolongamento da vida em invertebrados. No caso dos camundongos, não foi diferente: aqueles cuja dieta incluía cápsulas de rapamycin tiveram sua expectativa de vida a partir de 600 dias de idade aumentada em 28% para fêmeas e 38% para machos.

“Acreditamos que essa é a primeira evidência convincente de que o processo de envelhecimento pode ser retardado e a média de vida aumentada por meio da utilização de uma droga a partir de uma idade avançada”, declarou à imprensa Randy Strong, farmacólogo da NIA e coautor do artigo.

Segundo os autores, é especialmente interessante que o rapamycin tenha se mostrado efetivo em camundongos mais velhos. Esse resultado seria relevante em situações clínicas, nas quais “a eficácia de intervenções antienvelhecimento seria particularmente difícil de ser testada em voluntários mais jovens”.

Dieta antienvelhecimento
O outro artigo, publicado na Science por uma equipe norte-americana, testou uma dieta de restrição calórica em macacos rhesus. Dietas desse tipo já haviam se mostrado eficientes no retardamento do envelhecimento em camundongos e invertebrados, mas esta foi a primeira vez que os testes foram feitos em primatas.

Macacos alimentados com uma dieta de restrição calórica (à esquerda) sofreram menos os efeitos do envelhecimento – como incidência de câncer, doenças cardiovasculares, diabetes e perda de massa cerebral – do que os animais com alimentação normal (à direita). Foto: Jeff Miller/ University of Wisconsin-Madison University Communications).

O experimento durou 20 anos, durante os quais foram acompanhados 76 macacos adultos – metade alimentada de forma livre e outra metade com uma dieta de redução de 30% das calorias. Enquanto 50% dos macacos alimentados livremente sobrevivem até hoje, 80% daqueles sob restrição calórica ainda estão vivos. O animal mais velho desse último grupo já tem 29 anos, enquanto a média de vida dos macacos rhesus em cativeiro é de 27 anos.

Além da incidência de doenças cardiovasculares, câncer e diabetes ter sido menor nos macacos sob dieta, o cérebro destes também se mantiveram mais saudáveis. “A perda de massa cerebral que ocorre com o envelhecimento foi bastante atenuada em várias regiões dos cérebros dos macacos sob dieta”, explica um dos autores do artigo, o professor de medicina Richard Weindruch, da Universidade de Wisconsin (EUA).

“O estudo mostra que restrição calórica retarda o processo de envelhecimento em uma espécie intimamente relacionada aos seres humanos”, afirma à CH On-line o autor principal do artigo, Ricki Colman, também da Universidade de Wisconsin. “Por isso, essa dieta provavelmente terá um efeito benéfico também em pessoas.”

Remédio ou dieta?
Embora os efeitos do rapamycin tenham se mostrado semelhantes àqueles provocados pela dieta de restrição calórica e provavelmente atuem sobre a mesma proteína, os autores do estudo da Nature descartam uma relação mais próxima entre os dois métodos.

Eles afirmam que, pelo fato de o rapamycin aumentar a expectativa de vida mesmo se iniciado na velhice e pela ausência de mudanças de peso nos camundongos, não se pode tratar os dois resultados de forma tão semelhante. “Na maioria dos casos, as dietas de restrição calórica produzem pouco ou nenhum benefício se iniciadas após os 550 dias de vida [dos camundongos]”, dizem no artigo.

Apesar das diferenças entre os métodos, tanto o rapamycin quanto a dieta menos calórica apresentam-se como alternativas interessantes para futuros tratamentos para longevidade. “Identificamos um potencial alvo terapêutico para o desenvolvimento de drogas para a prevenção de doenças relacionadas ao envelhecimento”, complementa Randy Strong.

Isabela Fraga
Ciência Hoje On-line
09/07/2009