Nos últimos dez anos, a renda média do brasileiro cresceu 30% e a desigualdade econômica caiu cerca de 6%, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O cenário pode parecer animador, mas, para o economista Ricardo Paes de Barros, secretário de ações estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), os bons ventos podem não se sustentar em longo prazo, caso não haja investimento na produtividade da mão de obra do país.
Segundo Barros, o admirável crescimento econômico se deu em decorrência do crescimento do emprego durante esse período, aliado ao aumento da escolaridade da população adulta. Mais educação levou a mais pessoas empregadas, principalmente das camadas mais pobres, e, por consequência, maior distribuição de renda.
O economista alerta, no entanto, que o crescimento econômico não foi acompanhado de produtividade. Enquanto a renda aumentou 30% em 10 anos, a produtividade cresceu menos que 10% no mesmo período.
“Temos aumentado a remuneração do trabalho a uma velocidade muito mais alta do que temos melhorado a produtividade e isso pode ser um problema no longo prazo”, disse Barros em palestra no Fórum Mundial de Ciência, que ocorre esta semana no Rio de Janeiro. “Produtividade não é tudo, mas na situação em que vivemos hoje é um elemento essencial.”
Barros apontou que, sem a elevação da produtividade, o crescimento econômico e a redução da desigualdade não vão se manter. “As pessoas muitas vezes pensam que basta aumentar a renda das camadas mais pobres da população para reduzir a desigualdade, mas não é tão simples assim”, comentou. “Assistimos a um grande crescimento e nos tornamos um país famoso por nossa capacidade de reduzir a desigualdade, mas nosso sucesso social não é pleno.”
O papel da educação
O economista ressaltou que, em última instância, a educação foi uma das grandes responsáveis pela redução das desigualdades e que ela novamente deve ser uma ferramenta para aumentar nossa produtividade. De acordo com Barros, para manter o crescimento, é preciso investir na educação tecnológica e na inovação.
“Nosso maior desafio é reganhar um crescimento estável e rápido e isso será muito difícil sem a incorporação de novas tecnologias e a melhoria da educação”, disse. “Para alcançar um crescimento sustentável, o Brasil precisa aumentar sua produtividade de trabalho, que é a materialização do conhecimento, da ciência e da inovação.”
Barros destacou ainda a necessidade de se investir na capacidade de trabalho dos 10% mais pobres da população, que, segundo ele, não foram totalmente contemplados com o crescimento econômico recente.
O economista citou como exemplo de solução o programa do governo Brasil sem Misérias, que tem entre seus objetivos aumentar a produção de agricultores por meio de projetos de capacitação, qualificar mão de obra nas camadas mais pobres e identificar oportunidades de emprego para essas pessoas.
Ele enfatizou a importância de que essa capacitação acompanhe o progresso tecnológico. “Para alcançarmos um desenvolvimento econômico pleno e estável, o avanço tecnológico precisa ser recriado década após década e para isso a ciência também é fundamental.”
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line