Mais um efeito reparador

Mais uma para o currículo das células-tronco: foram capazes de reparar dano nos rins causado por insuficiência renal aguda e crônica. Os autores responsáveis pelo feito apresentaram o estudo na 26a Reunião Anual da Federação das Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), realizada no Rio de Janeiro na semana passada.

As doenças renais hoje são epidêmicas, por isso estamos à procura de fenômenos de regeneração e prevenção de danos ao rim

A insuficiência renal aguda mata em 50% dos casos – se associada à infecção generalizada, as chances de morte chegam a 80% –, de acordo com o coordenador da pesquisa, o médico Nestor Schor, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “As doenças renais hoje são epidêmicas, disse Schor. “Por isso estamos à procura de fenômenos de regeneração e prevenção de danos ao rim.”

O médico ressaltou que temos todo o ‘equipamento’ orgânico necessário para regenerar órgãos e membros, mas, diferente de uma lagartixa, que automaticamente recria a cauda perdida, nossas células-tronco precisam ser ativadas. “Há um mecanismo repressor dessa função e precisamos entendê-lo”, comentou.

Eficaz contra muitos

Os pesquisadores extraíram células-tronco adultas da medula óssea de ratos, as cultivaram no laboratório e as injetaram em ratas com infecção renal aguda e crônica. “Utilizamos células de ratos porque marcamos o cromossomo Y com uma técnica de imunofluorescência, o que nos permite rastrear as células-tronco após a injeção”, explicou Schor.

Estrutura da gentamicina
Estrutura da gentamicina. (foto: Wikimedia Commons)

Os danos nos rins das ratas foram induzidos por vários agentes tóxicos a esses órgãos: gentamicina, um antibiótico ao qual muitas bactérias ainda não têm resistência; aciclovir, um antiviral usado contra herpes; a bactéria Escherichia coli e sua toxina; e radiação ionizante.

Os experimentos mostraram que as células-tronco injetadas migravam para o local da lesão e promoviam a recuperação do tecido danificado. “Mas essa regeneração não foi causada pela transformação das células injetadas em células renais”, afirmou Schor. “Acreditamos que as células-tronco liberem substâncias que estimulem as células do rim a realizar o reparo.”

A bala, não a arma

As substâncias a que o médico se refere são moléculas de RNA, citocinas e fatores de crescimento, entre outras. Elas são liberadas dentro de exossomas, pequenas vesículas que protegem esses compostos da degradação, o que aconteceria se fossem liberados diretamente na corrente sanguínea. Os exossomas se fundem com a membrana da célula-alvo, dando início ao processo de sinalização.

“Embora algumas células-tronco possam agir se diferenciando em outro tipo celular, no caso dos nossos experimentos a probabilidade é que a atuação seja por meio das substâncias levadas pelos exossomas”, reforçou o médico. 

Os pesquisadores estão se concentrando em testar e caracterizar as vesículas, bem como seu conteúdo

A conclusão se baseia no fato de a equipe ter obtido o mesmo resultado ao injetar nas ratas com insuficiência renal apenas o material do meio de cultura onde as células-tronco foram tratadas – e onde liberaram quantidade significativa de exossomas.

Os pesquisadores agora estão se concentrando em testar e caracterizar as vesículas, bem como seu conteúdo. “Estamos interessados na bala, e não na arma”, brincou Schor.

Fred Furtado
Ciência Hoje/ RJ