Mais uma da Calha Norte

Os adjetivos pequeno e cor de areia podem não despertar a curiosidade de muita gente, mas eles descrevem perfeitamente Stenolicmus ix., espécie de peixe que chamou a atenção quando caiu na peneira de pesquisadores em expedição pela porção amazônica conhecida como Calha Norte. Era uma espécie nova para ciência.

Encontrado no igarapé Curuá, que flui na margem esquerda do rio Amazonas já em seu curso pelo estado do Pará, o peixinho ganhou nome que faz referência às manchas de seu corpo. 

O peixe ganhou nome que faz referência às manchas de seu corpo

“O padrão é semelhante ao das onças pintadas, chamadas pelos Maias de ‘ix'”, conta um dos autores da descoberta, o curador da coleção ictiológica do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Wolmar Wosiacki. “Não que ele pareça muito com as onças; o nome é mais uma inspiração.”

O padrão das manchas, por sinal, é uma das características que distingue S. ix de outras espécies, juntamente com o tamanho dos olhos, da cabeça e dos barbilhões, estruturas olfativas e gustativas, que se assemelham a bigodes de gatos.

Fonte de novas descobertas

A região da Calha Norte é um dos pontos menos conhecidos da Amazônia brasileira. Praticamente não há estradas na região e os rios encachoeirados dificultam a navegação, o que levou a equipe de Wosiacki a usar um helicóptero para chegar ao local.

Por conta dessa dificuldade de acesso, o pesquisador acredita que estudos sobre a ecologia e biologia da nova espécie não acontecerão tão cedo.

Mas o obstáculo tem sido compensado pelas valiosas descobertas feitas no local. As sete expedições que desbravaram a Calha Norte entre 2008 e 2010 já revelaram uma nova espécie de cobra-cega e uma samabaia que não era encontrada pelos pesquisadores desde o século 18.

“Novas descobertas dependem de sorte, mas também de empenho”

Coordenadas pelo Museu Goeldi e pela Conservação Internacional, as expedições exigiram esforço dos pesquisadores. “Fizemos coletas de manhã, de tarde, de noite e de madrugada para tentar amostrar animais com todo tipo de hábito e usamos métodos de coleta variados, como peneiras, puçás, redes e covos, que são armadilhas com isca. Afinal, novas descobertas dependem de sorte, mas também de empenho.”

O empenho dos pesquisadores também já deu retormo. O novo peixe foi descrito em artigo publicado na revista Zootaxa, em janeiro deste ano.

Mariana Ferraz
Ciência Hoje On-line/ AM