Mamífero pioneiro nos céus

 

 

Reconstituição do Volaticotherium antiquus , que vivia provavelmente nas árvores e tinha uma membrana coberta por uma densa camada de pêlos ligando os membros superiores aos inferiores, o que o permitia planar. (Clique na imagem p/ ampliá-la) 

 

Ao contrário do que pensavam especialistas, os mamíferos podem ter alcançado o céu na mesma época – ou até antes – das aves. Um fóssil encontrado na Mongólia Interior, na China, revelou a existência de uma nova espécie de mamífero capaz de planar que viveu entre 164 e 125 milhões de anos atrás (era Mesozóica).

Até então, o resquício mais antigo de um animal planador dessa classe era de morcego, datado de apenas 51 milhões de anos. A descoberta, publicada na Nature desta semana, antecipa no mínimo em cerca de 70 milhões de anos a data que pesquisadores acreditavam que essa habilidade teria aparecido nos mamíferos.

Embora o Volaticotherium antiquus , como foi batizado, seja similar aos esquilos voadores dos continentes do Norte, por causa da morfologia adequada ao vôo, ele não é ancestral desses animais, pois apresenta diferenças na dieta. “Enquanto os esquilos voadores são herbívoros, o V. antiquus comia insetos”, explica à CH On-line o líder da equipe chinesa que fez a descoberta, Jin Meng, curador associado da divisão de Paleontologia do Museu Americano de História Natural e pesquisador do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia da China. Por outro lado, assim como os mamíferos planadores atuais, Meng acredita que o animal tinha hábitos noturnos.

O fóssil apresenta importantes marcas que permitem aos cientistas afirmarem se tratar de um mamífero planador. A principal delas é a presença de uma membrana (chamada patágio) coberta por uma densa camada de pêlos, que ligava os membros superiores aos inferiores. Por causa dessa membrana, o peso do animal – bastante leve, em torno de 70 gramas – conseguia ser suportado durante o vôo.

O fóssil do V. antiquus encontrado na Mongólia mostra que o animal viveu entre 164 e 125 milhões de anos atrás (era Mesozóica). (Clique na imagem p/ ampliá-la) 

O V. antiquus  tinha também uma cauda comprida, que, por sua vez, era responsável por dar estabilidade ao vôo horizontal do mamífero. Apesar de se mostrar um bom planador, devido ao seu grande patágio e pequeno corpo, o animal não era ágil o suficiente para conseguir capturar presas no ar, embora algumas vezes isso pudesse acontecer.

Os dentes, as patas e os membros alongados mostram que o V. antiquus provavelmente não vivia no chão, e sim nas árvores. “Essas características do esqueleto são muito importantes, pois, para que o animal conseguisse planar, era preciso que tomasse altura”, acrescenta Meng.

Segundo o pesquisador, a descoberta dessa espécie mostra que a diversidade biológica entre os mamíferos da era Mesozóica era muito maior do que o esperado. Para ele, apesar de ainda não existirem provas, é possível que outros grupos de mamíferos também tenham desenvolvido a habilidade de planar na mesma época do V. antiquus . “Por causa do tamanho pequeno dos animais e do ambiente florestal em que viviam, torna-se mais difícil a preservação de fósseis, principalmente os de mamíferos planadores com patágio”, justifica.

Mariana Benjamin
Ciência Hoje On-line
14/12/2006