Mandioca nutritiva premiada

Uma pesquisa que deu origem a uma mandioca mais nutritiva e produtiva acaba de receber o Prêmio Péter Murányi de 2012, que recompensa trabalhos que contribuem para a melhoria de vida de populações em desenvolvimento. Criada no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), a variedade já é amplamente cultivada em vários estados do Brasil e tem garantido o sustento de famílias de pequenos agricultores no campo e na periferia das cidades, além de ser uma fonte de renda extra para essas pessoas.

Essa mandioca, popularmente conhecida como amarelinha, é naturalmente rica em vitamina A, essencial aos seres humanos

Essa mandioca, chamada IAC 576-70 e popularmente conhecida como amarelinha, é naturalmente rica em vitamina A, essencial aos seres humanos. Essa vitamina combate os radicais livres e previne o envelhecimento, além de fazer bem aos cabelos e à pele. Sua falta em grau elevado no organismo pode provocar cegueira.

Segundo a engenheira agrônoma Teresa Losada Valle, uma das pesquisadoras envolvidas no desenvolvimento e difusão da nova variedade, embora a cegueira causada por carência de vitamina A não seja comum no Brasil, a população apresenta níveis desse composto abaixo do ideal.

A mandioca IAC 576-70 tem aproximadamente dez vezes mais vitamina A do que a mandioca tradicional, característica que lhe confere uma coloração amarela. “A nova variedade tem 230 unidades internacionais (UI) desse nutriente por 100 gramas de mandioca”, ressalta Valle. A dose diária recomendada de vitamina A é de 2.500 UI para mulheres e 5.000 UI para homens.

Além de ter um nível maior de vitamina A, a amarelinha é mais resistente a pragas e doenças e apresenta alta produção de raízes. A engenheira agrônoma enfatiza: “Nosso objetivo é desenvolver produtos com alto valor nutricional e bom desempenho agrícola”.

Cultivo de mandioca
Além de ter alto teor de vitamina A, a amarelinha é mais produtiva e resistente a pragas e doenças. (foto: Arquivo do IAC)

Melhoramento genético tradicional

As mandiocas desenvolvidas no IAC são obtidas por meio de métodos tradicionais de melhoramento genético, ou seja, cruzamento e seleção. “A gente cruza variedades diferentes e depois seleciona as plantas que apresentarem os melhores resultados”, explica Valle.

O trabalho de melhoramento genético da mandioca vem sendo feito desde 1935 no IAC, até que, em 1970, a variedade IAC 576-70 começou a ser produzida. As sementes chegaram ao mercado no fim dos anos 1980 e se difundiram na década de 1990. Hoje a variedade responde por quase todo o consumo de mandioca de São Paulo e está se expandindo no Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Distrito Federal.

Inicialmente a mandioca IAC 576-70 foi distribuída a populações com baixa segurança alimentar. Esse trabalho, feito pelo IAC e pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, ambos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado de São Paulo, também foi importante para a concessão do prêmio.

Por ser de fácil adaptação ao solo e às condições climáticas, a mandioca modificada tem garantido o sustento de famílias de agricultores

Primeiro, a planta modificada foi fornecida a pequenos agricultores que produzem mandioca de mesa e eles passaram a distribuí-la entre si. Posteriormente, com o auxílio de outras instituições, como igrejas e postos de saúde, ela foi dada a agricultores de subsistência da periferia urbana, o que permitiu aumentar a quantidade e a qualidade de sua alimentação.

Por ser de fácil adaptação ao solo e às condições climáticas, a mandioca modificada tem garantido o sustento dessas famílias de agricultores. “A produção excedente é comercializada, tornando-se uma fonte de renda”, completa Valle.

A pesquisadora, que vai receber os R$ 150 mil do prêmio em uma cerimônia em abril, destaca a importância da produção e do consumo de mandioca. “Até o século 20, ela era considerada a base alimentar da população, e hoje divide espaço com o feijão e o arroz no prato do brasileiro”, complementa.

Fernanda Braune
Ciência Hoje On-line