Marcha para a extinção

 

Os ursos-polares acabam de ganhar um companheiro na incômoda posição de espécie ameaçada de extinção pelo aquecimento global. A maior das espécies de pinguim desaparecerá até o fim deste século se os bancos de gelo do oceano Antártico, ambiente fundamental para sua reprodução, derreterem como preveem os modelos climáticos.

A conclusão é de uma pesquisa franco-americana que analisou dez modelos diferentes do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) com previsões para o clima deste século e para a extensão dos bancos de gelo na área habitada pelo pinguim-imperador. Os resultados do estudo foram publicados esta semana na revista PNAS.

Endêmico da região polar antártica, o pinguim-imperador (Aptenodytes forsteri) é bastante conhecido do público por estrelar filmes como A marcha dos pinguins e Happy feet. Agora, ele passa a integrar a lista da fauna carismática que deve pagar a conta pelo aumento da temperatura. A espécie mais conhecida desse grupo talvez seja o urso-polar, endêmico da região ártica, no outro polo do planeta.

Os cientistas que analisaram os modelos do IPCC mostraram que todos eles levam a uma altíssima probabilidade de extinção dos pinguins-imperadores: a expectativa é que a população reduza de 6 mil para 400 casais de pinguins até 2100, um declínio de 93%.

Os pinguins-imperadores dependem da fina camada de gelo que se forma sobre o oceano Antártico para se reproduzir e se alimentar. As colônias são formadas nesses bancos de gelo, para que os pinguins possam realizar viagens ao mar aberto em busca de alimentos durante o período de incubação dos ovos e de criação dos filhotes.

Adaptação é única saída
Os autores acreditam que a diminuição dessa cobertura de gelo prejudicará o processo reprodutivo e afetará a dinâmica da vida dessa espécie. A única saída para o pinguim-imperador seria uma adaptação rápida ao novo cenário climático, o que envolve alterações nos seus estágios de desenvolvimento.

“Essa adaptação seria difícil, porque o pinguim-imperador é uma espécie de vida relativamente longa, enquanto o clima está mudando muito rapidamente”, diz à CH On-line o biólogo Hal Caswell, do Instituto Oceanográfico de Woods Hole (Estados Unidos), um dos autores do artigo. Os pinguins provavelmente teriam que mudar a época de chegada à colônia e o período de incubação dos ovos, em resposta às mudanças climáticas que tornam as estações mais quentes.

Caswell lembra que a extinção dos pinguins-imperadores não será é um efeito isolado do aquecimento global e trará consequências para todo o ambiente. “As mudanças climáticas não afetarão somente espécies, mas ecossistemas inteiros”, alerta. “Entender esses efeitos é um desafio prioritário para ecólogos de todo o mundo.”   

Tatiane Leal
Ciência Hoje On-line
26/01/2009