O mapa mostra os remanescentes florestais da mata atlântica (em verde) e a área total da cobertura original da floresta (mancha amarela). (Imagens: SOS Mata Atlântica/Inpe)
O percentual de remanescentes de mata atlântica no Brasil diminuiu nos primeiros cinco anos desta década. Em 2005, restavam apenas 6,8% da cobertura original da floresta, enquanto em 2000 esse número era de 7,1%. Em compensação, houve queda de 71% no ritmo de devastação no mesmo período, se comparado com o observado entre 1995 e 2000. Os dados constam do novo Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica.
O estudo, promovido pela ong SOS Mata Atlântica, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgou hoje os índices de desmatamento em oito estados brasileiros no período de 2000 a 2005. O levantamento, feito por meio de imagens do satélite Landsat, análises de campo e sobrevôos, é capaz de apontar ocorrências de desmatamento superiores a cinco hectares.
Durante os anos estudados, foram desmatados cerca de 95 mil hectares de floresta. Desse valor, 77% corresponde a áreas nos estados de Santa Catarina e Paraná. “As florestas de araucárias, que eram bem preservadas, estão desaparecendo em grandes extensões, o que eleva o valor de desmatamento nesses estados”, explica Marcia Hirota, coordenadora do Atlas pela SOS Mata Atlântica.
Santa Catarina foi o único estado que teve taxa de desmatamento superior à registrada no último estudo. “Com a pressão do agronegócio, as estatísticas acabam sendo desfavoráveis à Santa Catarina, pois em outros estados já não há mais nada para desmatar”, explica Flávio Ponzoni, coordenador técnico do estudo pelo Inpe.
O campeão de devastação percentual foi Goiás, com 7,9%. Em seguida, Mato Grosso do Sul (2,84%), Santa Catarina (2,03%), Paraná (1,34%), Rio Grande do Sul (0,3%), São Paulo (0,19%), Espírito Santo (0,16%) e, por último, Rio de Janeiro (0,08%). Os estados de Minas Gerais e Bahia ainda não tiveram os resultados avaliados, por causa da dificuldade de medições via satélite em regiões com muitas nuvens. “O estudo de Minas Gerais deverá ser concluído no início do próximo ano. Já elaboramos o mapa, que está sendo revisado no momento. Na Bahia, estamos com muitos problemas devido à cobertura de nuvens”, explica Ponzoni.
Segundo Márcia Hirota, se levarmos em conta os altos índices de desmatamento dos últimos vinte anos, os valores de hoje continuam elevados, apesar da diminuição de ritmo apresentada nos mapas acima.
A conclusão de que houve diminuição do percentual desmatado em sete estados não leva a crer, no entanto, que existiu mobilização social e política: “A queda se deve muito mais à falta de áreas para desmatar do que à adoção de medidas de preservação”, afirma Ponzoni. “Sobraram remanescentes em regiões de difícil acesso por conta do relevo. Creio que não houve uma contribuição sincera dos estados”, ressalta. E completa: “Isso sem contar os desmatamentos em pequena escala, de um ou dois hectares, que o nosso mapeamento não consegue identificar.”
Juliana Tinoco
Ciência Hoje On-line
12/12/2006