É difícil encontrar, nas escolas de ensino médio, um aluno instigado pelo aprendizado da geometria. Tal como é ensinada convencionalmente, por meio de fórmulas prontas, esse ramo da matemática pode soar entediante e sem sentido. Porém, a geometria permeia todo o mundo em que vivemos: a pintura, a escultura, a arquitetura e as composições clássicas, por exemplo, seguem princípios matemáticos básicos de proporção e simetria.
No que depender do físico Leonard Mlodinow, a antipatia dos alunos pela geometria tem seus dias contados. É com a leveza de um romance que, no recém-lançado A janela de Euclides , ele narra a evolução dessa disciplina ao longo dos séculos. Desde o primeiro relato sobre a natureza do espaço bidimensional a partir do raciocínio puro, feito por Euclides por volta de 300 a.C., até a física contemporânea, encabeçada pelo americano Edward Witten e sua teoria das supercordas, o livro contempla as descobertas que mudaram a percepção dos homens sobre o tempo e o espaço.
Dividido em cinco partes, cada qual reservada a uma das revoluções que abalaram a geometria — René Descartes, Carl Gauss e Albert Einstein são os outros personagens que ganharam destaque especial do autor –, o livro cumpre a difícil tarefa de explicar o desenvolvimento desses conceitos para um público amplo, que muitas vezes não conhece mais do que as coordenadas cartesianas.
Tal missão só poderia ser levada a cabo a partir de uma abordagem bem humorada, que entremeia vida e obra dos responsáveis pela sistematização da geometria para mostrar que, como nós, eles não passam de simples mortais. Além de inserir as descobertas em seu contexto histórico, o autor lança mão de outro artifício interessante para torná-las acessíveis: ele trata também de outros personagens, talvez menos ilustres, mas que ajudaram os cinco a fazer suas revoluções.
O primeiro imperativo para o desenvolvimento da geometria veio provavelmente com os egípcios, quando, no sexto milênio a.C., começaram a estabelecer comunidades fixas, calcadas na vida agrícola, e sentiram a necessidade de cobrar impostos sobre a terra. Eles desenvolveram métodos para calcular a área de quadrados, retângulos, trapezóides e círculos, já que o governo determinava os valores baseado na altura da enchente do ano e na área de superfície das propriedades.
Daí em diante, a humanidade ousou medir a Terra e o universo, e hoje esmiuçamos o espaço como explorávamos nosso planeta há milênios. Foi Euclides, com seu livro Os elementos — uma série de 13 rolos de pergaminhos dos quais nenhum sobreviveu até hoje –, que nos deu as ferramentas necessárias para revelar a natureza do universo. À medida que sua geometria passou por mais quatro revoluções, os matemáticos e cientistas nos forçaram a construir novas perspectivas sobre nosso lugar no cosmos.
Leonard Mlodinow escreve roteiros para Hollywood e presta consultoria científica para produções como Jornadas nas estrelas . Sua habilidade para traduzir e disseminar conceitos, rara entre os cientistas, lhe possibilitou redigir um livro atraente e instigante até para os mais dispersos leitores.
A janela de Euclides – a história da geometria
das linhas paralelas ao hiperespaço
Leonard Mlodinow (trad.: Enézio E. de Almeida)
São Paulo, 2004, Geração Editorial
Fone: (11) 3872-0984
295 páginas – R$ 39,50
Carolina Benjamin
Ciência Hoje On-line
06/07/04