Menos queda de energia no campo

 

O Monotri recebe a energia monofásica que chega pelos fios condutores de eletricidade e a transforma em energia trifásica antes que seja distribuída para os consumidores rurais (foto: Eneltec).

O problema da baixa qualidade de energia comum no interior do país poderá ser solucionado graças a uma tecnologia criada por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O Monotri (Conversor Estático Monofásico-Trifásico para Áreas Rurais) é um equipamento capaz de transformar energia monofásica, instável e limitada tecnicamente, em trifásica, distribuída hoje nas grandes cidades por ser de melhor qualidade. Ao satisfazer a demanda energética no campo, o Monotri poderá oferecer melhores condições de trabalho aos habitantes dessas regiões.

“Boa parte da energia que chega hoje ao interior foi instalada com o programa do Governo Federal Luz Para Todos, que pretende levar eletricidade para todo o Brasil”, afirma o engenheiro eletricista Gilson Santos Júnior, um dos pesquisadores envolvidos no projeto, desenvolvido no Laboratório de Eletrônica de Potência da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) da UFRJ. “No entanto, devido à longa distância e aos custos altos, foi adotada a energia monofásica, que muitas vezes falha ou não é suficiente para abastecer essas regiões.”

Essa carência impulsionou a pesquisa para a construção de um equipamento que convertesse a energia monofásica em trifásica. Em 2002, a equipe recebeu o apoio da Ampla, empresa responsável pela distribuição de energia elétrica para o estado do Rio de Janeiro, a fim de aprimorar o fornecimento para o interior.

O sistema monofásico, maneira mais simples de se fornecer energia, é constituído de um fio condutor – ou fase – e, em grande parte dos casos, um fio neutro. “O problema desse sistema é que ele fica sobrecarregado com facilidade, pois a energia não se pode ser dividida com outras fases e suporta somente motores de baixo rendimento e poucos equipamentos elétricos”, explica Santos Júnior. Já o modelo trifásico é formado por um fio neutro e três condutores de energia, capazes de alimentar mais aparelhos em um mesmo circuito.

O Monotri tem a tarefa de receber a energia monofásica que chega pelos fios condutores de eletricidade e transformá-la em energia trifásica antes que seja distribuída para os consumidores rurais. O dispositivo, hoje desenvolvido pela empresa Eneltec, incubada na UFRJ, conta com um microprocessador, que controla as chaves que convertem energia monofásica em trifásica, em um processo chamado de conversão e retificação da energia elétrica.

Estabilizador de energia
“O Monotri, na verdade, realiza duas tarefas: primeiro, a corrente monofásica alternada é recebida por um retificador que a torna contínua; depois, ela é convertida em três correntes monofásicas, ou seja, em energia trifásica”, explica Santos Júnior. Por isso, o Monotri funciona também como um importante estabilizador de energia.

A potência nominal típica do Monotri é de 15 a 25 quilovolts-ampère (kVA). Cada unidade pode suprir, em média, 20 residências rurais, dependendo da quantidade de aparelhos elétricos residenciais, como ar condicionado, e de máquinas agropecuárias que exigem maior potência energética.

O equipamento, que pesa cerca de 250 quilos na versão atual, deve ter um custo inicial de R$ 50 mil. “Quando a distância entre a principal fonte da rede de energia elétrica e as cidades de pequeno porte ultrapassa 10 quilômetros, por exemplo, é mais econômico investir na aquisição de um Monotri do que trocar toda a rede monofásica pela trifásica”, argumenta Santos Júnior. A equipe da Eneltec estima que o Monotri esteja disponível no mercado em 2008, quando já terá sido testado seu primeiro lote experimental, de quatro unidades.

O pesquisador ressalta que a baixa qualidade da energia distribuída no interior impede investimentos que aumentariam o desempenho das fazendas e gera constantes gastos com reparos na rede elétrica. “O êxodo rural é a grande conseqüência desse processo, por ser justamente a busca desses trabalhadores por melhores condições nas grandes cidades”, avalia Santos Júnior. “Com o Monotri, o trabalhador rural terá acesso a uma energia de alta qualidade e estável, semelhante à encontrada nos grandes centros.”

Fabíola Bezerra
Ciência Hoje On-line
01/11/2007