“Um Professor Pardal“. Diz-se do sujeito que gosta de inventar coisas por conta própria em casa, em alusão ao personagem da Disney, um cientista meio maluco afeito à criação.
Pois é. O que não faltam são professores pardais por aí. E, para incentivar os malucos de plantão, foi criado, há três meses, um portal que dá força à criatividade: o sugestivo Laboratório de Garagem. Do que se trata?
Uma página construída no espírito colaborativo – ou seja, qualquer um pode publicar e comentar o conteúdo – que agrupa ideias e invenções realizadas por cientistas caseiros:
“O portal surgiu quase como uma brincadeira. Só depois que pus no ar vi que tinha potencial”, diz Marcelo Rodrigues, criador da iniciativa.
“Pensei que deveria haver mais gente como eu, que gosta de inventar coisas em casa, explorar e desenvolver tecnologia. Queria conhecer essas pessoas para trocar informação”.
Empreendedor
Marcelo é formado em engenharia elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No começo da carreira, trabalhou na área, mas se desencantou “com as dificuldades de se fazer pesquisa no Brasil”.
Hoje aos, 33 anos, Marcelo é diretor da Escola Max, colégio criado por ele e que tem como cartilha o vivencionismo – método educacional criado… também por ele!
Sim, engenheiro, que virou educador que virou empreendedor. Soa um pouco grandioso. E é mesmo. Mas está dando certo.
Com poucos meses, a plataforma colaborativa já tem 1.500 associados (os ‘garagistas’) e dezenas de inventos propostos. Colegas virtuais que trocam ideias sobre as suas próprias criações.
“Gostaria de desmistificar a ideia de que ciência deve acontecer necessariamente em um laboratório formal. Com o acesso às novas tecnologias, qualquer um pode aprender e criar algo comercial e de valor, até mesmo, acadêmico”, defende Marcelo.
O que já foi feito
O fruto dos três meses ‘em criação’ já está sendo colhido no Laboratório de Garagem. Marcelo cita como exemplo a invenção de um robô controlado via internet de qualquer local do planeta. Fala também sobre o debate, já em passo avançado, que está acontecendo para a construção de scanners que criam objetos 3D usando lasers.
“Existe uma grande formalização do conhecimento cientifico, e isso inibe o inventor. Há muitas pessoas sem formação na área que, por muito gosto e curiosidade, acabam inventando coisas brilhantes. A ciência precisa ser mais aberta e menos preconceituosa”, diz Marcelo.
O que será feito
A ideia segue adiante. Marcelo já alugou uma casa (custeada por ele) e planeja convidar em breve sua comunidade para a inauguração do espaço. Espaço de quê? De pôr em prática as invenções que aparecem no portal.
“O espaço físico [uma espécie de laboratório] já está pronto. Temos o básico para o começo. Três bancadas com morsa, furadeira, serrote, parafuso, prego, resistor, transistor e todo tipo de coisa de que se precisa para criar”.
A ousadia é a seguinte: após ter as invenções consolidas, Marcelo oferecerá um sistema de encubadora (que funcionará na própria casa), onde empresas serão formadas e trabalharão lado a lado para vender – tornar comercial – o produto.
“Acredito na ciência livre, no conhecimento compartilhado. Se tiver lucro com esse empreendimento, ótimo. Poderei aparelhar ainda mais o laboratório. Caso contrário, se eu conseguir fazer um negócio autossustentável, já fico muito feliz”, afirma Marcelo.
Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line