Missão: conectar

Em tempos de alta tecnologia, ainda há espaço nos céus para os balões. Além de levar turistas para observar de cima as mais belas paisagens, essas aeronaves mais leves do que o ar são muito empregadas na ciência, por exemplo, em avaliações atmosféricas. Agora um projeto coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais  (Inpe) pretende usá-las na superação de uma enorme limitação: levar internet até áreas de difícil acesso e distantes de centros urbanos.

Os grandes problemas envolvidos na tarefa de levar a conexão de internet a regiões mais remotas, como o interior da Amazônia, são a falta de infraestrutura e de interesse comercial para sua instalação. O plano do projeto Conectar é manter balões a 400 metros de altitude (acima das torres de transmissão convencionais) para receber o sinal de internet de um centro urbano e retransmiti-lo por muitos quilômetros ao seu redor – permitindo, assim, acesso à rede mesmo em áreas afastadas e reduzindo os espaços desconectados do país.

“Estamos trabalhando para obter o melhor transmissor possível e um balão que resista pelo maior tempo possível; o objetivo é desenvolver um equipamento que tenha um alcance de 100 km de raio e balões que permaneçam de 3 a 5 meses no ar e com vida útil de 5 anos”, avalia o engenheiro elétrico Jose Ângelo Neri, coordenador do projeto no Inpe. O modelo e o material de que serão feitos os balões ainda estão sendo definidos junto aos possíveis fabricantes do equipamento.

O foco principal do projeto é a região Norte do país, que tem cobertura muito limitada e problemas para expandir sua infraestrutura de rede

A energia utilizada e o sinal de rede serão levados ao balão por cabos presos ao solo e seu posicionamento será informado a aeroportos e bases aéreas, para evitar acidentes. O equipamento será revestido com um material especial para se tornar mais resistente a tempestades e outras intempéries da natureza. “A instalação será mais barata do que a construção de torres de retransmissão, o que diminui as barreiras econômicas para expansão da rede”, diz o pesquisador.

O foco principal do projeto é a região Norte do país, que tem cobertura muito limitada e problemas para expandir sua infraestrutura de rede – só recentemente, por exemplo, os primeiros cabos de fibra ótica chegaram a Manaus.

“Em um país com grandes dimensões e complexidades físicas como o nosso, é difícil a internet chegar para todo mundo; os rios e as florestas são grandes obstáculos, por exemplo”, analisa Neri. As dificuldades de conexão da região amazônica e as mudanças proporcionadas pela internet a um município no coração da floresta foram tema de um especial publicado na CH On-line.

A importância de um projeto como esse é dar chance de acesso a todos. “A conexão é importante, pois abre horizontes culturais, proporciona chances de assistência médica, educação à distância, abertura de empresas longe das cidades, pagamento de impostos e compras on-line; os benefícios são muitos”, comenta Neri. “É uma tentativa de colocar as pessoas em um mesmo patamar de competitividade, lazer, educação”, avalia.

Balão de internet
Em uma primeira fase de testes, um protótipo do balão foi lançado em Cachoeira Paulista (SP) e permitiu a realização de uma ligação por vídeo. (foto: Inpe)

Em novembro do ano passado, um protótipo do balão foi lançado em São Paulo, mas a ‘poluição’ de sinais de rádio característica de grandes centros urbanos interferiu no desempenho do balão do Inpe – mesmo assim, foi possível realizar uma ligação por vídeo utilizando o equipamento. A segunda fase de campo das pesquisas está em planejamento e deverá acontecer em áreas afastadas no norte do país, onde não há interferências de outros sinais.

Utilizar balões para transmitir sinais de internet não chega a ser uma total novidade. Em 2013, o Google lançou o Loon, projeto com proposta que lembra a do Conectar. Apesar disso, Neri afirma que não houve nenhuma influência da iniciativa na proposta brasileira e explica que os dois projetos são bastante diferentes. “O projeto do Google necessita de muitos balões para cobrir a mesma área, por estarem ao sabor dos ventos”, compara Neri.

Isabelle Carvalho
Ciência Hoje On-line