Moscas podem ser indicadores de preservação ambiental

A composição das comunidades de moscas de um ecossistema pode ser um importante termômetro para indicar seu estado de preservação. É o que indica o estudo da pesquisadora Renata da Mata, desenvolvido durante seu mestrado no Laboratório de Biologia Evolutiva da Universidade de Brasília (UnB). Ela constatou que o grau de degradação de um dado ambiente afeta o número e o tipo de espécies ali existentes.
 

A Drosophila willistoni é uma possível bioindicadora do estado de preservação das matas de galeria do cerrado. (imagem: reprodução / Flybase)

A bióloga trabalhou com moscas da família dos drosofilídeos, espécies conhecidas como moscas-da-banana ou moscas-do-vinagre. Os insetos foram monitorados na Reserva Ecológica do IBGE, a 35 km de Brasília. Essas moscas foram escolhidas como possíveis bioindicadores devido ao seu tamanho (que permite fácil captura e manipulação), curto ciclo de vida (que permite o estudo de muitas gerações em pouco tempo), grande diversidade (que permite o estudo dos efeitos das alterações em várias espécies) e sensibilidade às variações das condições ambientais.

 
Durante 12 meses foram investigadas drosofilídeos em vários tipos de vegetação (ambientes abertos, conhecidos como savanas, e matas de galeria), em diferentes níveis de conservação. Elas foram capturadas em armadilhas simples, feitas de garrafas plásticas vazias com iscas de banana com fermento biológico em seu interior, espalhadas por 25 localidades. Depois de 48 horas, a garrafas eram fechadas e as moscas no seu interior levadas ao laboratório para serem classificadas e contadas.
 
Os resultados mostraram que, nas matas de galeria preservadas, apareceram espécies raras, tais como Drosophila atrata, D. paraguayensis   e D. neoguaramuru e muitos espécimes de D. willistoni. A comunidade dos ambientes abertos e matas perturbadas, que provavelmente sofrem influência das espécies desses ambientes, é bem parecida. Há poucas espécies raras típicas das matas de galeria e um predomínio das espécies Zaprionus indianus , D. mercatorum e D. cardini .
 
Apesar de não ter estudado o motivo dessa diferente distribuição, a pesquisadora acredita que ela está ligada à sensibilidade das espécies. “As moscas de ambientes abertos são mais resistentes à baixa umidade, alta temperatura e incidência solar”, afirma. “Devem também explorar uma maior variedade de recursos à sua volta. Já as espécies restritas à mata de galeria devem ser mais sensíveis a esses fatores e explorar poucos ou apenas um recurso alimentar.”
 
A pesquisadora procura agora, na sua tese de doutorado, adotar um índice que exprima o grau de preservação ambiental de um ecossistema baseado nas espécies indicadoras. “Ele será importante na identificação das áreas prioritárias para serem preservadas e para detectar mudanças ambientais ainda não sinalizadas por outros organismos, como aves ou mamíferos” afirma.
 
Apesar de concentrar seus estudos nas vegetações do cerrado, ela não descarta a utilização desse índice em outras regiões do Brasil. “A mata atlântica, por exemplo, apesar de ter uma riqueza maior de drosofilídeos, apresenta praticamente todas as espécies encontradas nas matas de galerias”, compara.

Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line
14/04/05