A dengue não afeta somente os humanos. Um estudo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) publicado no periódico Plos One mostra que a fêmea do mosquito Aedes aegypti – transmissor da doença – também tem seu comportamento alterado pelo vírus da dengue. A ‘mosquita’ fica agitada e chega a se locomover o dobro dos insetos não infectados.
Os pesquisadores analisaram em laboratório o comportamento de fêmeas do Aedes aegypti infectadas com o sorotipo 2 do vírus da dengue, um dos mais comuns no Brasil. Os mosquitos infectados foram colocados em tubos de vidro e observados durante sete dias.
Durante esse período, um sistema de monitoramento contou, por meio de raios infravermelhos, quantas vezes cada mosquito passou pelo ponto central do tubo de vidro. O resultado da experiência mostrou um aumento da atividade dos insetos que variou de 10% a 50% em relação a sua movimentação normal.
A hiperatividade dos insetos foi observada inclusive no período noturno, quando normalmente esses insetos ficam menos ativos. Segundo os pesquisadores, é possível que a mudança de comportamento afete os horários em que as fêmeas dos mosquitos saem para se alimentar.
Novas estratégias de controle
A descoberta pode ajudar no desenvolvimento de futuras estratégias para o controle da dengue. “Abrimos caminho para pesquisas que avaliem como a mudança da atividade dos mosquitos influencia a dinâmica de transmissão da doença”, diz uma das autoras do estudo, a bióloga Rafaela Bruno, da Fiocruz.
“Mas ainda são necessários mais estudos para que possamos dizer quais medidas podem ser tomadas para controlar a dengue.”
Os pesquisadores acreditam que a mudança de comportamento dos mosquitos acontece porque o vírus da dengue afeta o seu sistema nervoso e o chamado relógio circadiano, um mecanismo interno que controla os ritmos biológicos do inseto.
No Brasil, além do sorotipo 2, circulam outros três tipos de dengue. Os pesquisadores, no entanto, ainda não sabem se mosquitos infectados com outros sorotipos teriam a mesma reação.
Os cientistas iniciam agora a fase seguinte do estudo, em que pretendem analisar os genes que controlam o relógio circadiano dos mosquitos. “Já fizemos estudos preliminares que mostram que esses genes são afetados quando o mosquito é infectado; agora vamos nos aprofundar nessa questão”, diz a bióloga da Fiocruz Tamara Lima Camara, que integra a equipe da pesquisa.
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line