Mudas livres de microrganismos

O Brasil está prestes a adotar uma tecnologia para otimizar a produção de mudas livres de fungos, bactérias, vírus e micoplasmas. Trata-se das biofábricas, instalações onde as mudas são cultivadas em um gel ou líquido nutritivo, contido em frascos de vidro ou biorreatores, sem contato com a terra e sob a luz solar. A tecnologia foi desenvolvida em Cuba e, em meados de 2002, será utilizada por pesquisadores da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), coordenados por Sílvio Lopes Teixeira.

Biofábricas são instalações onde as mudas são cultivadas sob a luz solar (imagens: José Carlos Mendonça)

As biofábricas usam o princípio da embriogênese somática em biorreatores, técnica que consiste em dar origem a um novo indivíduo a partir de um tecido retirado da planta — do ramo, da bainha foliar ou de outra parte, em função da espécie. O tecido fica mergulhado em um gel ou líquido contendo os nutrientes necessários para seu desenvolvimento, como nitrogênio, potássio, fósforo, zinco, cobalto, manganês, magnésio, enxofre, vitaminas (na maioria do grupo B) e hormônios responsáveis pela divisão celular do tecido e pela transformação de suas células em embriões. “É a versão vegetal do bebê de proveta animal”, compara Teixeira.

De acordo com o pesquisador, muitas doenças que atingem as plantações já vêm da muda contaminada. Como a cultura é iniciada em frascos esterilizados e com o tecido livre de doenças, todas as mudas formadas ficam 100% livres de microrganismos e doenças. A biofábrica da Uenf terá capacidade para a produção de 4 milhões de mudas por ano, com possibilidade de duplicar esse número no futuro (no cultivo tradicional, são obtidas 6 mudas no mesmo período ou até em mais tempo).

Uma das inovações da biofábrica é utilizar a luz solar que, além de ser mais barata, deixa as mudas mais resistentes ao transplante para o meio externo. A luz artificial, adotada em outras instalações, deixa a planta com baixa resistência e as raízes ‘preguiçosas’, acostumadas a receber todos os nutrientes diretamente do meio nutritivo.

 

As mudas são cultivadas imersas em um gel com nutrientes, sem contato com a terra

Cuba já desenvolveu técnicas de embriogênese somática para produzir mudas de goiaba, banana, abacaxi, cana-de-açúcar e maracujá, que serão utilizadas no Brasil. Os pesquisadores brasileiros estudam a melhor maneira para adaptar a biofábrica de forma a aproveitar por mais tempo a luz solar (em Cuba, mais próxima do Equador que o estado do Rio de Janeiro, os dias são mais longos durante o ano). Segundo Teixeira, também estão sendo estudadas técnicas para produzir mudas de fruteiras de grande importância econômica para o estado, como coco-da-Bahia e pinha.

 

“Desde 93, quando Darcy Ribeiro fundou a Uenf, tínhamos esse projeto”, conta Teixeira. “Porém, só foi possível concretizá-lo agora, com o apoio do governo do estado.” A produção da biofábrica da Uenf irá para agricultores que fazem parte do programa Frutificar, do governo do estado, que visa a desenvolver a fruticultura no norte e noroeste fluminense.

Andrea Guedes
Ciência Hoje on-line
10/08/01