Na direção certa

Se você se encontrasse perdido no meio de uma cidade, o que faria? Provavelmente pediria informações para passantes. E se fosse uma ave migratória querendo saber em que direção voar? Essas espécies resolvem seu problema de forma bem mais simples: elas são sensíveis ao campo magnético da Terra e orientam seu vôo em função dele. Mas como isso é possível? Pesquisadores da Universidade de Oldenburg, na Alemanha, começam a compreender o mecanismo por trás desse fenômeno.

Que aves migratórias se guiam pelo campo magnético terrestre não é nenhuma novidade. A forma como elas identificam-no, no entanto, permanece desconhecida. Em artigo publicado em 9 de novembro na revista Current Biology , a equipe alemã coordenada pelo biólogo Henrick Mouritsen identificou o procedimento exato com o qual as aves migratórias rastreiam o campo magnético. Os pesquisadores concluíram que essa sondagem ocorre durante um determinado movimento de cabeça realizado pelas aves.

Eles observaram que esse comportamento é prioritário na orientação desses animais na direção de sua migração. “Quando expostos a um campo magnético zero, os pássaros quase triplicaram a freqüência de movimentos de cabeça e, em seguida, seu deslocamento se tornou aleatório”, afirma Mouritsen.

A espécie Sylvia borin vive em bosques com arbustos densos. Comum na Europa, pode ser encontrada em abundância ao sul da Inglaterra (foto: H. Mouritsen)

A equipe alemã observou o comportamento de 35 aves migratórias noturnas da espécie Sylvia borin . Para o estudo, as aves foram colocadas em uma gaiola cilíndrica especial, onde poderia ser criado um campo magnético nulo e todos os movimentos dos pássaros poderiam ser registrados. Sete dos pássaros foram testados durante o dia somente sob efeito do campo geomagnético natural. Os outros foram examinados à noite, quando as aves apresentam geralmente um comportamento de inquietação (repetidos pulos e bater de asas) característico dos períodos que precedem os movimentos migratórios.

Os pesquisadores definiram que o movimento de rastreamento acontece quando a ave gira sua cabeça em um ângulo de mais de 60° para a esquerda ou direta. Algumas vezes, o movimento da cabeça ocorre só para um lado; em outras, um primeiro giro é imediatamente seguido de outro na direção oposta.

Mouritsen aponta algumas evidências que indicam que esse movimento da cabeça das aves está ligado à percepção do campo magnético terrestre. A primeira é que as aves expostas a um campo magnético nulo fizeram em média 141 rastreamentos em uma hora, enquanto em condições naturais só realizam 52.

Em segundo lugar, as aves aumentaram significativamente a freqüência de rastreamentos 10 minutos antes de manifestar os sinais típicos de ’inquietação migratória’. “Durante esse período, a média de rastreamentos aumentou gradualmente de 2 por minuto para 6 por minuto”, destaca Mouritsen.

“Esse comportamento é uma indicação importante de como funciona e em que estrutura está localizado o sensor magnético das aves, que ainda é desconhecido”, comenta Mouritsen em entrevista à CH On-line . “Adotaremos agora a contagem de rastreamentos como uma ferramenta adicional para descobrir como essas aves conseguem sentir o campo magnético.” 

Renata Moehlecke
Ciência Hoje On-line
16/11/04