Na trilha do ouro

 

 

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Detalhes da Praça Tiradentes, em Ouro Preto, modelada para o jogo Estrada Real Digital . Um passeio virtual pelo modelo digital da praça pode ser feito a partir do site do projeto.

Percorrer o caminho que liga Paraty (RJ) às cidades históricas mineiras; andar por ruas e construções do século 18; manipular objetos centenários da altíssimo valor – tudo isso sem sair da frente do computador, enquanto resolve diversos quebra-cabeças ligados à região mineradora do interior do Brasil. É isso que o jogo Estrada Real Digital , em desenvolvimento na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) deve oferecer. Os usuários poderão visitar cidades por onde passava a Estrada Real, rota de escoamento do ouro e pedras preciosas vindos de Minas Gerais para o Rio de Janeiro.
 
A visita virtual deve incluir cidades como Ouro Preto, Congonhas, Diamantina ou Sabará. A movimentação do jogador por esses cenários será condicionada por quebra-cabeças: para acessar ambientes novos, será preciso resolver charadas sobre temas regionais, como cultura, história e gastronomia – o banco de dados do próprio CD deve trazer dicas para as respostas.
 
Todos os cenários e objetos serão reconstituições dos originais, desenvolvidos a partir de milhares de fotografias. Até agora, apenas a praça Tiradentes e algumas ruas da cidade de Ouro Preto foram modeladas. “Pretendemos criar um verdadeiro arquivo digital do patrimônio histórico da região”, afirma Rodrigo Carceroni, um dos coordenadores do projeto e professor do Departamento de Ciência da Computação da UFMG.
 
Entre os personagens que vão interagir com o jogador, estarão bandeirantes, tropeiros, escravos e outras figuras típicas. Uma tecnologia de captura de movimentos que envolve a gravação simultânea de um modelo por 15 câmeras (semelhante à utilizada no filme O expresso polar ) permitirá um retrato mais fiel e preciso de tradições como danças folclóricas típicas.
 
Estrada Real Digital deve contar com três níveis de detalhamento gráfico e, por isso, poderá ser executado em qualquer computador. O jogo terá também um módulo de guia turístico, em que não será necessário resolver enigmas para andar pelos cenários. Esse módulo poderá ser usado para o treinamento de guias turísticos – mercado muito controlado por empresas estrangeiras a região.
 
Um dos objetivos do projeto é estimular a inclusão digital da população carente das cidades históricas retratadas. Os pesquisadores pretendem ensinar essas comunidades a utilizar as ferramentas de modelagem virtual e desenvolver cenários para o jogo. O jogo pretende, ainda, ajudar a desenvolver nas comunidades a consciência da importância da região e de sua preservação. “Queremos evitar que a expansão do turismo descaracterize a região”, afirma a historiadora Regina Alves, diretora do Centro Cultural da UFMG, também responsável pelo projeto.
O jogo, que tem lançamento esperado para o meio de 2006, tem promovido uma interação inédita entre professores estudantes de ciências humanas, como sociologia e história, e de ciências exatas, como engenharia e ciência da computação.  “É uma das coisas mais impressionantes que já vi”, afirma a Regina. “Os alunos estão se interessando por áreas bem diferentes das suas e aprendendo em conjunto, tudo graças ao desenvolvimento desse projeto.”


Marcelo Garcia
Ciência Hoje on-line
25/05/05