Nasa divulga ‘retrato’ da origem do universo

A agência espacial norte-americana (Nasa) acaba de divulgar informações precisas — e preciosas! — sobre a origem do universo. Após um ano de observação da esfera celeste, com a ajuda da sonda Wilkinson Microwave Anisotropy Probe (WMAP), cientistas captaram imagens da grande explosão que originou nosso cosmos. As ‘fotos’ confirmam que ele tem cerca de 13,7 bilhões de anos e é composto por apenas 4% de átomos de matéria. E uma surpresa: as primeiras estrelas a brilhar no universo surgiram 200 milhões de anos após o Big Bang , bem antes do que muitos pesquisadores pensavam.

Mapa que retrata o momento de origem do universo. As manchas vermelhas indicam regiões mais ‘quentes’, e as azuis, as mais ‘frias’. A forma oval reflete uma projeção bidimensional similar à usada para representar o globo terrestre

 

“Capturamos imagens detalhadas da ‘infância’ do universo e agora podemos descrevê-lo com muito mais precisão”, declarou Charles Bennett, coordenador da missão da WMAP, em comunicado à imprensa. O novo ‘retrato’ do universo fornece informações inéditas sobre a natureza da suposta energia escura que, acredita-se, compõe 73% do conteúdo total do universo — ela agiria como uma espécie de antigravidade. Segundo os pesquisadores, os dados obtidos pela WMAP também confirmam a hipótese segundo a qual o universo seria composto ainda por 4% de átomos de matéria e 23% de um tipo desconhecido de matéria escura.

As imagens fornecidas pela sonda conseguiram captar também a chamada radiação cósmica de fundo, uma radiação residual proveniente da explosão primordial que, segundo a teoria do Big Bang , teria dado origem ao universo. “Dentro dela há uma quantidade infinitesimal de amostras que simbolizam as sementes do que mais tarde transformou-se em um grupo de galáxias e a vasta estrutura que vemos ao nosso redor”, informa o comunicado da Nasa.

Essa luz teria viajado durante 13 bilhões de anos até ser captada pela WMAP. Cabe lembrar que há uma defasagem entre nossa visão de um fenômeno e o instante em que ele ocorreu:a luz da Lua chega até nós em pouco mais de um segundo; a do Sol, em cerca de oito minutos; já a luz emitida pelas estrelas que vemos pode ter demorado alguns anos ou até milhares de milênios, conforme a distância que ela está afastada de nós.

 

A sonda Wilkinson Microwave Anisotropy Probe (WMAP) foi lançada em 2001 eestá a 1,6 milhão de quilômetros da Terra (imagens: Nasa/equipe da WMAP)

A 1,6 milhão de quilômetros da Terra, a WMAP continuará a observar a radiação cósmica de fundo por mais três anos. Os cientistas esperam que a sonda possa revelar novos dados sobre a natureza da energia escura que compõe o cosmos e sobre a teoria da inflação, segundo a qual o universo passou por uma fase de expansão extremamente rápida, frações de segundo após o Big Bang . “É o início de um novo estágio de estudo sobre a origem do universo”, garante David Spergel, membro da missão da WMAP.

 

“Essas medidas são um passo adiante no sentido de obtermos mais precisão sobre nosso conhecimento dos instantes iniciais do universo”, diz o astrônomo Walter Maciel, do Instituto de Astronomia e Geofísica da Universidade de São Paulo (IAG-USP). “Mas é preciso ressaltar que os valores médios encontrados para matéria comum, matéria escura e energia escura não são definitivos e devem ser vistos com certa cautela, já que dependem de cálculos baseados em modelos teóricos que ainda são aproximados.”

 

 

Elisa Martins
Ciência Hoje on-line
20/02/03

 

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