Equipe de paleontólogos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) apresentou esta semana o crânio de um animal considerado o carnívoro terrestre mais antigo do continente sul-americano. A estrutura tem 33 cm de comprimento.
A descoberta acaba de ser publicada na edição on-line da revista PNAS. O nome da espécie, Pampaphoneus biccai, é um tributo à região dos pampas, onde foi encontrada, e ao fazendeiro José Bicca, proprietário das terras onde foram feitas as escavações, no município de São Gabriel.
P. biccai, que viveu no período Permiano (última fase da era Paleozoica), há 260 milhões de anos, não deixou descendentes e pode, à primeira vista, induzir interpretações equivocadas.
Embora a rugosidade que recobre os ossos do crânio se assemelhe à dos ossos do crânio de jacarés, o animal não é um réptil. Também não é parente próximo dos mamíferos, como Tiarajudens eccentricus, descoberto recentemente na mesma região.
De acordo com o paleontólogo Cesar Schultz, um dos coordenadores da equipe que descobriu P. biccai, embora o animal fosse essencialmente carnívoro, ele também ingeria vegetais. Apresentava dois grandes caninos na arcada superior e outros dois inferiores, voltados para trás.
Com base no exame do crânio, os pesquisadores supõem que o indivíduo tinha o tamanho de um leão, com aproximadamente 250 kg. Calcula-se que tinha 3 m de comprimento. Segundo Schultz, mesmo não sendo um indivíduo tão jovem, podia ter maior porte.
Andarilhos
Graças a imagens de satélite, a equipe de pesquisadores da UFRGS conseguiu, em 2008, localizar áreas do sul brasileiro onde poderia haver rochas do período Permiano. “Por meio dessas imagens, chegamos a São Gabriel”, conta Schultz.
O paleontólogo destaca que P. biccai assemelha-se a indivíduos já encontrados na Rússia e África. “Isso significa que a espécie se espalhou por outras regiões do planeta muito mais do que imaginávamos.”
Antes do período Triássico, em que viveram os dinossauros, as espécies do Pangeia (superbloco que aglutinava todos os continentes da Terra) já se deslocavam em direção a destinos longínquos, dispersando-se para o norte e para o sul.
O pesquisador lembra que P. biccai viveu em uma fase crucial do Permiano, quando a vida ocupou todo o planeta e em seguida se extinguiu em quase 90%, por razões ainda mal conhecidas.
Pampaphoneus biccai está exposto no Museu de Paleontologia da UFRGS e poderá ser visitado a partir de março deste ano.
Katy Mary de Farias
Especial para Ciência Hoje On-line/ PR