Nova arma contra fungos e bactérias

 

O pau-ferro é usado popularmente como antiinflamatório e antitumoral no Nordeste.

Uma proteína extraída de uma planta conhecida como pau-ferro pode ser uma alternativa para o tratamento de doenças causadas por bactérias e fungos, como meningite, diarréia e candidíase. A substância foi descoberta por pesquisadores do Laboratório de Glicoproteínas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que mostraram que ela tem um alto grau de ação antimicrobiana.

O composto recém-descoberto pertence ao grupo das lectinas, proteínas vegetais de múltiplas funcionalidades. Retiradas de seu ambiente, elas resistem às mudanças de temperatura e, por isso, podem ser estudadas em outros meios, ao contrário de outras proteínas, que se desfazem mais depressa nessas condições. Várias proteínas desse grupo – tema de estudo da equipe da UFPE há mais de vinte anos – possuem propriedades de grande interesse para a medicina.

No Nordeste, o pau-ferro é usado popularmente como antiinflamatório e antitumoral, entre outras funções. Os cientistas descobriram que, na verdade, seu interesse terapêutico se deve à ação antimicrobiana da lectina recém-identificada, que impede o crescimento dos fungos e bactérias e mata-os. No entanto, ainda não se conhece em detalhes a ação proteína.

Para chegar a essa conclusão, o primeiro passo foi preparar um extrato da planta, que incluía várias substâncias. Em testes in vitro , esse extrato mostrou-se eficaz contra o fungo Candida albicans , causador da candidíase, e contra várias bactérias patógenas, como a Coryneumbacterium sp., ligada a infecções oportunistas da faringe e laringe, ou a Escherichia coli , capaz de provocar gastroenterite, meningite neonatal e outras infecções. Comprovada a ação antimicrobiana, a lectina foi isolada e purificada. Esses resultados foram submetidos para publicação em uma revista científica internacional.

Descoberta no ano 2000, a proteína está agora em fase de caracterização, com a comparação com outras lectinas já analisadas, para que se entenda a origem de sua ação antimicrobiana. Em seguida, os pesquisadores começarão a verificar se a substância tem efeitos colaterais para humanos. No entanto, a equipe ainda não tem previsão de quando serão feitos testes com células humanas e animais vivos. Ou seja: ainda estamos longe de um medicamento à base da substância identificada na UFPE.

Outras lectinas com ação antimicrobiana já foram descobertas pelo grupo da UFPE, mas a expectativa é maior desta vez, já que esta é a única capaz de inibir vários fungos e bactérias. A bioquímica Maria Tereza Correia, orientadora do projeto, aponta outras vantagens da nova proteína: “o pau-ferro é encontrado em abundância por todo o Nordeste e essa lectina pode ser isolada mais facilmente que as outras. O processo é mais barato e facilitaria o acesso aos remédios”.

Simone Evangelista
Especial para CH On-line
12/04/2006