Novo aliado dos dentistas

 

Em breve os dentistas ganharão um aliado que vai facilitar os tratamentos dentários. Pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) estão desenvolvendo um método que diagnostica precocemente doenças bucais, como cáries, e avalia a qualidade dos materiais dentários. A técnica consiste no uso da tomografia óptica, tecnologia mais eficiente que as radiografias e que não causa danos ao paciente.

A foto mostra um dente incisivo inferior cariado, no qual foi feita a inspeção por tomografia óptica. A região marcada em vermelho e ampliada no destaque corresponde à imagem obtida pelo método. A região mais clara evidencia a reflexão da cárie, e a mais escura, a parte sadia do dente (fotos: Anderson Gomes).

“A tomografia óptica é como um ultra-som. A diferença é que, nesse caso, é emitido um pulso de luz – e não uma onda sonora – e o resultado do exame é obtido a partir do eco desse pulso”, afirma o coordenador do projeto, o físico Anderson Gomes, do Departamento de Física da UFPE.

A técnica usa feixes de luz emitidos por um LED (diodo emissor de luz, na sigla em inglês), uma fonte de luz que libera feixes mais largos que o laser. Parte desses feixes bate no dente que está sendo analisado e a outra parte é refletida em um pequeno espelho, que deve ser colocado em uma posição específica. “Quando as duas luzes se recombinam, um sinal é obtido em um fotodetector e lido por um programa de computador, que constrói uma imagem com base nessas coordenadas”, explica Gomes.

Adaptada para fins oftalmológicos desde 1991 e hoje também aplicada em dermatologia, a tomografia óptica obteve êxito no diagnóstico precoce de doenças. Em 2004, a equipe da UFPE começou a realizar testes para aplicação da técnica na odontologia. “Observamos que a tomografia óptica conseguia alcançar regiões difíceis na boca e identificar males em sua fase inicial, tornando-se mais eficaz do que a própria visão do dentista e os raios-X”, diz o físico.

Resultado imediato e detalhado
Para Gomes, é grande a vantagem da tomografia óptica em relação aos raios-X. “A visualização em tempo real das imagens refletidas, que são exibidas pelo computador, permite o resultado imediato; já as radiografias comuns necessitam da revelação de fotografias”, explica. A alta resolução da imagem obtida – que pode chegar a 10 micra (milésimos de milímetro) – e o acesso a problemas na polpa do dente (parte que fica no interior das gengivas) também ajudam no diagnóstico de cáries mais profundas e problemas de canal.

“A tomografia óptica alcança profundidades e ângulos que as placas de metal colocadas pelo dentista para tirar a radiografia não alcançariam”, destaca Gomes. Além disso, a radiação emitida equivale aproximadamente a 800 nanômetros (10 -9 m), valor que não causa dano à saúde. Nas radiografias com raios-X feitas convencionalmente, a freqüência de onda eletromagnética é mais alta do que a do laser usado na nova técnica e, portanto, não recomendada para mulheres grávidas.

A equipe da UFPE também examina a aplicação da tomografia óptica na análise da qualidade de materiais dentários, como as resinas das restaurações. “Estamos fazendo testes com obturações mal colocadas ou desgastadas pela mastigação, que sofrem fissuras ou fendas em sua superfície que causam dor ao paciente”, diz Gomes. “Isso facilitaria muito o trabalho dos odontologistas, que poderiam saber com precisão se o material foi aplicado da forma correta.”

O protótipo do equipamento de tomografia óptica para uso em odontologia, montado pelos pesquisadores, custa em média 20 mil dólares. No entanto, segundo Gomes, esse valor pode ser reduzido: “Basicamente, é necessário um LED, um espelho especial, uma estrutura de caixa e um computador com um programa para a leitura do laser.”

Por enquanto, os testes ainda não estão sendo realizados com pacientes, mas apenas com amostras de dentes extraídos. O equipamento deve estar disponível em tamanho menor do que o protótipo daqui a um ano, quando o grupo da UFPE espera testar a tomografia óptica em pacientes, para que, em um futuro próximo, a tecnologia chegue aos consultórios odontológicos.

Fabíola Bezerra
Ciência Hoje On-line
12/11/2007