Novo composto contra o câncer traz resultados animadores

 

A invulnerabilidade do câncer pode estar com os dias contados – é o que indica uma pesquisa que tem avaliado o uso de uma substância extraída de óleos essenciais de várias plantas ‐ o álcool perílico. Os resultados sugerem que esse composto é menos tóxico e mais seletivo do que os tratamentos atuais contra o câncer. O estudo está sendo realizado pelos pesquisadores Thereza Quirico-Santos e Débora Futuro, da Universidade Federal Fluminense (UFF), e pelo neurocirurgião Clóvis Orlando da Fonseca, da UFF e do curso de pós-graduação em Neurologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

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As imagens mostram a regressão de um tumor cerebral maligno 90 dias após o tratamento com álcool perílico. O tumor – a grande mancha à esquerda da imagem A – regrediu de forma substancial após o uso da substância (B).

 

Testes com culturas de células in vitro e em animais foram bastante satisfatórios e comprovaram que a substância é capaz de provocar a regressão de diferentes tipos de tumores e ativar o sistema imune. Após conseguir autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), a equipe iniciou o tratamento com cinco portadores de tumores cerebrais malignos recidivos ‐ isto é, que foram retirados cirurgicamente e reapareceram tempos depois – e obteve resultados animadores: os dois primeiros pacientes, que iniciaram o tratamento com álcool perílico há 90 e 30 dias, apresentaram regressão tumoral sem efeitos adversos e já se encontram em situação estável.

Para conseguir esses resultados, o álcool perílico age em duas frentes: induz o suicídio das células cancerígenas (apoptose) e inibe sua proliferação desenfreada. “Os tumores são causados por alterações genéticas em determinadas células, que se multiplicam em velocidade muito grande”, explica Clóvis. “As células alteradas precisam parar sua proliferação excessiva e o álcool perílico atua justamente numa etapa fundamental da divisão celular. Assim, além de regredir tumores, ele impede a reincidência do câncer e o espalhamento da doença para outros órgãos.”

Os resultados promissores indicam que o álcool perílico tem vantagens em relação aos tratamentos atuais. A rádio e a quimioterapia, além de comprometerem também células saudáveis, nem sempre são uma solução definitiva: células residuais portadoras dos genes cancerígenos costumam resistir e resultam em um novo câncer. A nova droga, porém, não deverá substituir esses tratamentos. “O álcool perílico deve ser complementar à quimioterapia e atuar no controle da metástase e da possível reincidência de um câncer pela sobrevivência de células residuais”, ressalta Thereza.

Nos testes com animais, a substância foi administrada por via oral, em cápsulas absorvidas no intestino. No entanto, devido a sua baixa solubilidade, ela precisaria ser ingerida em grandes quantidades ‐ o que é ruim porque provocaria um excesso de lipídios no organismo. A idéia dos pesquisadores é disponibilizar o remédio em aerossol, para ser inalado. Com um nebulizador, o álcool perílico passa por uma via de acesso direto para o sistema nervoso central e é absorvido mais rapidamente.

“Um paciente que completou um ano do diagnóstico de câncer de mama com metástase para o tecido ósseo e pulmões em outubro de 2004 começou a utilizar o álcool perílico por via inalatória como tratamento complementar à quimioterapia e em três meses seu quadro melhorou de forma surpreendente”, conta Thereza. “No momento, ainda faz uso da substância e está em completa remissão. Leva vida normal”.

A inalação da droga também poderia ser eficiente na prevenção de tumores pulmonares. Da mesma forma, a produção de cremes e protetores solares com a substância poderia evitar o câncer de pele. 

O estudo recebeu em 2004 o Prêmio da Academia Nacional de Medicina e o prêmio Edital Novos Autores da EdUFF. Na fase atual, os pesquisadores pretendem aumentar o número de pacientes tratados com a substância ‐ em dois anos, durante o doutorado de Clóvis, querem realizar testes com mais 20 pessoas ‐ e estudar em laboratório os efeitos clínicos positivos já observados. Resultados preliminares foram publicados em 2002 pelo International Journal of Molecular Medicine e apresentados em 2004 no 8º Congresso Mundial de Medicina Molecular, na Universidade de Creta (Grécia) . As últimas novidades serão divulgadas este ano na revista Oncology Report .

Bel Levy
Ciência Hoje On-line
01/03/05