Novo tipo de cometas pode ter trazido água à Terra

Os novos cometas se formaram no Cinturão de Asteróides, situado entre as órbitas de Marte e Júpiter (arte: Nasa).

Uma descoberta de cientistas norte-americanos pode nos levar a rever o que sabemos sobre o Sistema Solar: foram identificados cometas surgidos no Cinturão de Asteróides, entre Marte e Júpiter. Até aqui, acreditava-se que esses corpos celestes, constituídos principalmente de gases, gelo e poeira cósmica, eram formados exclusivamente no Cinturão de Kuiper ou na Nuvem de Oort – regiões longínquas do Sistema Solar, situadas depois das órbitas de Netuno e Plutão, respectivamente. Segundo o artigo que relata a descoberta, publicado na Science

desta semana, os novos cometas podem trazer pistas sobre a origem da água da Terra.

 

Os autores – Henry Hsieh e David Jewit, pesquisadores da Universidade do Havaí – identificaram dois novos cometas originados no Cinturão de Asteróides, batizados P/2005 U1 e 118401. A órbita desses astros em torno do Sol é quase circular, ao contrário do que acontece com os cometas formados no Cinturão de Kuiper ou na Nuvem de Oort, que têm trajetória elíptica. “Acreditamos que esse avanço seja bastante significativo para entender melhor o funcionamento do Sistema Solar”, disse Hsieh em entrevista à CH On-line

. “Agora o Cinturão de Asteróides se estabilizou como terceira fonte de cometas.”

Uma primeira indicação de que o Cinturão de Asteróides poderia ser um berçário desses corpos celestes havia sido identificada em 1996, quando foi observado o cometa Elst Pizarro, de órbita menos elíptica do que esperavam os astrônomos. “Enquanto se tratou de um caso único, seria concebível – embora improvável – que esse cometa fosse um caso extremamente raro de conversão de órbitas devido à força da gravidade”, explica Hsieh. “Agora que conhecemos três cometas com as mesmas características, deduzimos que esses objetos são, desde o princípio, residentes do Cinturão de Asteróides.”

 

Origem da água terrestre

 

O esquema compara a órbita de dois cometas ‘clássicos’ (Halley e Tempel 1, em azul) com a dos três cometas formados no Cinturão de Asteróides (em vermelho). Em preto, a órbita dos planetas; em amarelo, a dos asteróides propriamente ditos (arte: Pedro Lacerda / Univ. do Havaí e Univ. de Coimbra).

A descoberta da nova classe de cometas pode ajudar a entender a origem da água na Terra – objeto de impasse entre os cientistas. Alguns especialistas acreditam que ela veio do espaço, trazida por corpos celestes; outros defendem que ela se formou no próprio planeta. Os autores do estudo sugerem que sua origem pode estar nos cometas nascidos no Cinturão de Asteróides, já que o gelo presente nos meteoros dessa região tem a mesma estrutura molecular da água encontrada na Terra.

 

De acordo com Henry Hsieh, é provável que os cometas provenientes dessa mesma área sejam formados por gelo de iguais características. Além disso, ele argumenta que os cometas originados no Cinturão de Kuiper e na Nuvem de Oort têm órbitas bem distantes da Terra e que uma colisão entre eles e a Terra seria algo improvável; já aqueles formados no Cinturão de Asteróides, com órbitas mais próximas, teriam mais chance de se chocar com nosso planeta.

 

Para verificar se o gelo dos novos astros tem a mesma estrutura molecular da água da Terra, será necessário enviar uma missão espacial para coletar dados que esclareçam as reais características físico-químicas dos componentes desses cometas e até dos asteróides dessa região.

“Precisamos estudar cada objeto mais profundamente e observar melhor a população dessa região, ou seja, quantos asteróides contêm gelo, se esse gelo é diferente daquele encontrado nos cometas ‘clássicos’ e qual a quantidade de gelo presente nos cometas, entre outras coisas”, afirma Hsieh.

 

 

 

Franciane Lovati

 

Ciência Hoje On-line

23/03/2006