O fantasma do desemprego juvenil

 

Embora os jovens representem 44% dos desempregados do país, não se buscava saber por que a taxa de desemprego juvenil era até três vezes maior que a dos adultos. Dava-se como certo que o problema era devido à dificuldade de se obter o primeiro emprego. No entanto, a maioria dos jovens entre 14 e 24 anos atingidos pelo desemprego já trabalhou anteriormente. Na verdade, a origem do problema está na dificuldade dessas pessoas para se manterem estáveis no mercado de trabalho.

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Segundo o IBGE, o desemprego atinge cerca de 13,4% dos jovens com entre 14 e 24 anos (foto: Rafael Barifouse)

 

Essa foi a conclusão da dissertação de mestrado da economista Priscilla Matias Flori, recém-defendida na Universidade de São Paulo (USP). Flori decidiu estudar o tema ao perceber que, apesar de ele ser extensivamente tratado no exterior, a literatura nacional era omissa nesse aspecto. “Falava-se muito no desemprego, mas nunca com foco no jovem.”

Com base nos dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizada de 1983 a 2002 nas seis principais regiões metropolitanas do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife), a pesquisadora analisou uma série de aspectos ligados ao desemprego entre jovens (de 14 a 24 anos) e adultos (de 25 a 59 anos). De acordo com a PME, apenas 4,48% dos adultos não têm trabalho, enquanto cerca de 13,39% dos jovens estão na mesma situação.

Os resultados mostraram que o tempo médio durante o qual o jovem fica desempregado é tão elevado quanto o dos adultos — cerca de quatro meses e meio. A diferença estava na chamada taxa de entrada no desemprego: enquanto entre os adultos apenas 1,09% ficam desempregados em um mês ou menos, entre os jovens essa taxa é de 3,73%.

Apesar de seu estudo não ter buscado as razões que levam o jovem a entrar e sair de um emprego em um curto período de tempo, Flori acredita que estão na própria idade os motivos para essa alta rotatividade. “É característico da categoria querer experimentar. O jovem quer conhecer e muitas vezes não se fixa nos primeiros empregos.”

Lançado em junho desse ano, o Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego (PNPE) busca romper o ciclo vicioso do preconceito contra a falta de experiência, apontado como motivo do elevado desemprego juvenil. O PNPE já atua em dez capitais e, por meio de parcerias com empresas privadas, prevê a criação de 900 mil novos empregos nos próximos 12 meses.

Mas, segundo Flori, o PNPE não será capaz de resolver o problema como um todo. De acordo com seu estudo, dos 3,4 milhões de jovens desempregados, pouco mais de 10% estavam à procura do primeiro emprego. “O governo precisa elaborar políticas mais específicas, voltadas para a rotatividade, que ajudem o jovem a achar o seu lugar.”

Rafael Barifouse
Ciência Hoje On-line
03/12/03