O lado pop da ciência

        

O mercado de livros de divulgação científica ganhou no final de 2007 duas novidades que exploram um lado bem-humorado da ciência para explicar curiosidades do cotidiano. Os dois lançamentos adotam o mesmo formato – textos curtos e estruturados na forma de respostas a dúvidas corriqueiras. São perguntas, aliás, que dão título às duas obras: Por que o bocejo é contagioso?, de Suzana Herculano-Houzel, e Quanto preciso pesar para ser à prova de uma bala perdida?, organizado por Mick O’Hare.

O livro da neurocientista Suzana Herculano-Houzel repete a fórmula consagrada pela autora, uma das mais destacadas divulgadoras de ciência no Brasil atualmente. Os leitores de seus livros anteriores e da coluna que ela manteve semanalmente na Ciência Hoje On-line durante mais de um ano conhecem o estilo: textos descontraídos e instigantes, que explicam o funcionamento do cérebro de forma simples e descomplicada.

Em Por que o bocejo é contagioso?, Suzana mostra como a neurociência ajuda a explicar fenômenos intrigantes do dia-a-dia. O leitor provavelmente já parou para se perguntar qual é a origem de soluços, dos espirros ou da coceira, por exemplo. A resposta a todas elas está no livro. Mistérios do comportamento humano também não escapam do exame da autora: Por que sofremos junto com os mocinhos do cinema? Por que mentir é difícil? Por que é difícil guardar um segredo? Suzana responde.

Os textos têm no máximo duas páginas na maioria e são organizados em grandes blocos temáticos, que reúnem questões ligadas aos sentidos, à memória ou ao sono, por exemplo. A classificação, no entanto, é apenas formal. Os textos são autônomos e se deixam ler em qualquer ordem – formato que torna o livro ideal para uma leitura fragmentada, no ônibus, no banheiro ou onde mais o leitor quiser.

Formato clássico
O formato de perguntas e respostas é um clássico da divulgação científica – toda revista desse gênero que se preza tem sua seção de dúvidas dos leitores. E é justamente uma reunião das melhores perguntas enviadas pelos leitores da revista britânica New Scientist que compõe o cardápio do livro Quanto preciso pesar para ser à prova de uma bala perdida?

A seção de perguntas da New Scientist – ‘The last word’ (‘A última palavra’) – apresenta, porém, uma singularidade em relação à de outras revistas. Ali, as dúvidas dos leitores são respondidas pelos próprios leitores, muitos deles pesquisadores especialistas no tema de cada questão. O resultado é que várias perguntas recebem mais de uma resposta, que explicam aspectos diferentes da questão. Há inclusive casos em que são oferecidas respostas conflitantes – nessas ocasiões, a redação da revista busca esclarecer a questão por conta própria e dá seu veredicto em uma nota editorial.

Como o próprio título indica, as dúvidas resolvidas na New Scientist são muitas vezes insólitas, características do típico humor que marca a imprensa britânica. O livro esclarece, por exemplo, as condições necessárias para que o corpo de um leitor se torne um fóssil após a morte. Você descobrirá também por que as bebidas claras causam menos ressaca do que as escuras e qual é a altura máxima da qual um gato pode cair sem se ferir, entre outras curiosidades.

Em comum, os dois lançamentos são uma leitura leve e agradável mesmo para quem não tenha grande afinidade com biologia, física e outras áreas. Os livros mostram que há ciência de fácil compreensão por trás de fenômenos corriqueiros e inusitados. Com isso, mostram que é possível lidar com conceitos técnicos de forma divertida e podem ajudar a despertar o fascínio de muitos leitores pela ciência. 

Quanto preciso pesar para ser à prova de uma bala perdida?  
Mick O’Hare (Org.). Trad.: Carlos Duarte
Rio de Janeiro, 2007, Editora Record
Tel.: (21) 2585-2000
288 páginas – R$ 40,00

Por que o bocejo é contagioso?  
Suzana Herculano-Houzel
Rio de Janeiro, 2007, Jorge Zahar Editor
Tel.: (21) 2108-0808
180 páginas – R$ 32,00

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
02/01/2008