Pessoas que sofrem de pressão alta estão mais perto de obter um tratamento eficaz para esse problema. Dois estudos internacionais identificaram 13 genes que influenciam a pressão sanguínea. Os dados são um primeiro passo rumo ao desenvolvimento de novos métodos e medicamentos para prevenir e tratar a hipertensão, que pode causar graves doenças cardiovasculares e até levar à morte.
As pesquisas, realizadas por dois consórcios internacionais – o Charge e o Global BPgen –, foram publicadas esta semana em dois artigos na Nature Genetics. Cada equipe identificou oito genes que afetam a pressão arterial, três dos quais aparecem em ambos os estudos.
A hipertensão é uma doença de grande incidência no mundo e, se não for controlada, pode gerar sérias complicações cardiovasculares e até levar à morte (foto: Lietmotiv/ Flickr).
Segundo o cardiologista Alexandre Pereira, do Instituto do Coração (InCor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, essas são as primeiras pesquisas a identificar com sucesso genes relacionados à pressão sanguínea e à hipertensão. O geneticista Christopher Newton-Cheh, autor principal do artigo do Global BPgen, justifica: “É muito difícil encontrar variantes genéticas relacionadas à pressão sanguínea, porque os fatores que a influenciam vão desde a idade até os genéticos propriamente ditos.”
A pesquisa realizada pelo consórcio Charge reuniu seis estudos feitos anteriormente que mapearam o genoma de 29.136 indivíduos e coletaram dados sobre suas características físicas e comportamentais (fenótipo), como a pressão sanguínea. Os indivíduos avaliados eram descendentes de europeus e tinham entre 28 e 72 anos. Nessa primeira análise, os pesquisadores descobriram evidências de vários locais do genoma relacionados aos níveis de pressão sanguínea e à ocorrência de hipertensão.
Variações genéticas
Em uma segunda fase do estudo, os cientistas compararam suas conclusões com as do consórcio Global BPgen. Foram identificadas onze variações genéticas de oito genes: quatro relacionadas ao nível da pressão sanguínea sistólica (o valor mais alto obtido na medição da pressão), seis à pressão sanguínea diastólica (o valor mais baixo da medição) e uma à ocorrência de hipertensão.
O estudo conduzido pelo consórcio Global BPgen adotou abordagem semelhante, porém com um número maior de pessoas. A equipe avaliou inicialmente o genoma e as características fenotípicas de 34.433 descendentes de europeus e identificou 12 variantes genéticas relacionadas à pressão arterial.
Os cientistas do Global BPgen foram um pouco além e realizaram outra análise para confirmar os dados. Eles acompanharam as 12 variantes genéticas identificadas na primeira fase do estudo em 71 mil descendentes de europeus e em 12.300 descendentes de sul-asiáticos. Em seguida, também compararam seus resultados com os do consórcio Charge.
Após as três fases da pesquisa, a equipe apontou oito principais genes relacionados à pressão arterial. “Um desses genes contém uma enzima-chave na síntese de esteroides que poderia aumentar a retenção de sal no rim”, conta à CH On-line o médico Mark Caulfield, coautor do artigo. Com mais sal no rim, uma menor quantidade desse composto percorre a corrente sanguínea, o que diminui a pressão arterial.
Segundo Caulfield, também foram identificados genes que afetam o estreitamento dos vasos sanguíneos e a formação de coágulos. “No entanto, o mecanismo de ação de outros genes não está claro”, acrescenta o médico.
Efeitos modestos e relativos
Os autores ressaltam que cada variação genética identificada pelos estudos tem um efeito muito pequeno sobre a pressão sanguínea. “Mas, combinadas, as variações podem ter um efeito acumulativo sobre a pressão sanguínea, formando um quadro clinicamente relevante”, afirmam no artigo da Nature Genetics.
Christopher Newton-Cheh diz que agora é preciso descobrir como essas variações genéticas influenciam a pressão sanguínea e qual seria o impacto do aumento ou da diminuição da atividade desses genes sobre a pressão. “Também vamos juntar os consórcios Global BPgen e Charge para identificarmos mais genes”, acrescenta Caulfield.
Mas será que os resultados desses estudos podem ser aplicados no Brasil? Não integralmente, segundo Alexandre Pereira. O fato de os consórcios Charge e Global BPgen terem trabalhado majoritariamente com descendentes de europeus limita a aplicação das descobertas no nosso país.
“Como a população brasileira é miscigenada, as variações genéticas podem não ser as mesmas que as dos europeus”, explica o cardiologista. “É mais provável que tenhamos uma mistura de variantes europeias e africanas”, pondera Pereira, que ressalta a necessidade de se realizarem estudos específicos com pacientes brasileiros.
Isabela Fraga
Ciência Hoje On-line
12/05/2009