Durante evento preparatório para a 15ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro da ONU em Mudanças Climáticas, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, defendeu que o investimento na chamada economia ‘verde’ é o negócio do futuro para a comunidade empresarial (foto: Clarissa Vasconcellos).
O investimento inteligente está na economia ‘verde’. A frase, pronunciada pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, poderia resumir as intenções da Cúpula Internacional Empresarial sobre Mudanças Climáticas, em Copenhague (Dinamarca). O evento, realizado entre os dias 24 e 26 de maio, foi uma espécie de aquecimento para a 15ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP15), que acontecerá em dezembro na capital dinamarquesa e pretende criar um novo tratado em substituição ao Protocolo de Quioto, que expira em 2012.
Cerca de 500 presidentes e representantes de empresas eram o alvo dos organizadores do encontro. A maioria das companhias participantes está ligada à produção energética. Ban se revezou no palco com personalidades como o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e até a atriz Cate Blanchett. Todos juntos tentando sensibilizar a poluente comunidade empresarial.
“Temos que chegar a um acordo este ano. Não no ano que vem”, declarou Gore. “Um fracasso político na COP15 é simplesmente inaceitável e os poderosos representantes que estão agora nesta sala devem exercer um papel primordial para prevenir um fiasco”, completou Blanchett.
Que há uma crise climática todo o mundo sabe. Mas se o argumento de que as próximas gerações estão ameaçadas parece longínquo, os políticos tentam convencer os empresários “pelo bolso”. “As mudanças também trazem grandes oportunidades econômicas”, ressaltou o presidente da Comissão Europeia.
Segundo Barroso, se a União Europeia conseguir que 20% de sua energia sejam gerados por fontes renováveis até 2020, isso pode significar mais de um milhão de empregos no setor industrial, sobretudo nas áreas de infraestrutura, eficiência energética e tecnologia automobilística “limpa” (como biocombustíveis ou carros elétricos).
Solução para três grandes crises
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, durante entrega do Prêmio Nobel da Paz de 2007, que ele dividiu com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, por sua atuação contra o aquecimento global (foto: Kjetil Bjørnsrud).
Al Gore destacou que atualmente o mundo vive três grandes crises: a financeira, a energética e a climática. Todas elas estão interligadas, têm soluções comuns e “exalam carbono” juntas. Durante a cúpula, os diretores-executivos das empresas sugeriram que os governos devem usar o mercado para definir um preço global para o carbono no lugar de taxá-lo. Em troca, as companhias propõem investir em tecnologias “limpas” ou comprar créditos de carbono de empresas que já conseguiram atingir sua meta de reduções. Mas, para isso, pedem a ajuda financeira dos governos.
Os empresários defendem também que os governantes se concentrem em obter um acordo que limite o aumento da temperatura global a 2ºC até 2050. Desde 1990, as temperaturas aumentaram em 0,12ºC e a previsão da ONU é que na metade do século os termômetros registrem de 1ºC a 2ºC a mais em relação a 1990. Além disso, a classe empresarial exige que o acordo a ser firmado na COP15 estabeleça limites para que o dióxido de carbono se transforme em um bem “escasso”, pois só assim as empresas poderiam migrar para uma economia mais verde.
A expectativa para o êxito de um novo acordo da ONU aumentou depois que os líderes empresariais concordaram que é necessário cortar as emissões de gases causadores do efeito estufa pela metade até 2050 (tendo como base o ano de 1990), por meio do estabelecimento de limites específicos para a emissão de carbono. Entretanto, entidades como o Observatório Associado da Europa (CEO, na sigla em inglês) ressaltam que grande parte dos empresários presentes na cúpula prefere seguir com as medidas atuais, confiando no desenvolvimento de tecnologias que possam sanar as contaminações no futuro.
“Lobistas corporativos estão tentando influenciar as conversas sobre a COP15 antes mesmo de ela começar. Se suas demandas forem escutadas, acabaremos perdendo a luta contra as mudanças climáticas”, alerta a entidade.
A “falta de vontade política” também foi apontada como um dos principais obstáculos ao acordo. “No entanto, a vontade política é um bem renovável”, disse Gore, depois de destacar as propostas do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para a redução de emissões.
A cúpula internacional tinha como objetivo aquecer as turbinas (de energia renovável, se elas existissem fora da metáfora) para a COP15. Mas os discursos mornos e o ceticismo crônico de alguns participantes deixaram uma sensação de incerteza. Apesar disso, dois dos líderes que se destacaram no evento, Gore e Barroso, deixaram claro que acreditam no sucesso da COP15 e procuraram afastar qualquer clima de pessimismo em relação ao esperado encontro de dezembro.
Clarissa Vasconcellos
Especial para a CH On-line
29/05/2009
*A repórter viajou a Copenhague a convite do Ministério das Relações Exteriores da Dinamarca