Com os problemas ambientais na pauta das discussões políticas mundiais, os líderes dos países têm sido levados a tomar decisões para frear o aquecimento global e a destruição da camada de ozônio. Mas uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) mostra que não só os governos têm poder de mudança nas questões ambientais: a participação da sociedade pode interferir no rumo de projetos que gerem impactos no meio ambiente.
A administradora Roseli Nunes Coletti, da Escola de Engenharia de São Carlos da USP, estudou a participação da sociedade civil nos instrumentos de política ambiental no Brasil. Coletti analisou quais fatores fazem com que a população consiga garantir que o bem-estar ambiental e social prevaleça sobre os interesses econômicos que, muitas vezes, são o foco das empresas.
“A sociedade tem uma força imensa em suas mãos, se ela souber utilizar”, afirma Coletti. A administradora ressalta que, para aumentar as chances de efetividade da participação social, é preciso que ela ocorra no início do processo. No caso da implantação de uma obra, por exemplo, a manifestação popular deve acontecer já na fase denominada zoneamento ambiental, quando se estuda a adequação do terreno ao projeto. Foi o que ocorreu na construção de um poliduto que atravessaria a região de Ribeirão Preto, em São Paulo.
A mobilização popular foi decisiva para a modificação do traçado da obra de construção de um poliduto (foto) que atravessaria a região de Ribeirão Preto, em São Paulo (foto: Lázaro V. Zuquete).
Um estudo feito pela USP na região mostrou que existia um trecho mais apropriado para a construção do poliduto do que o estipulado pela Petrobras, responsável pela obra. Se a construção fosse feita na área escolhida pela empresa, haveria diversos riscos para o meio ambiente.
Isso mobilizou a sociedade local – em especial entidades de proteção ambiental –, que solicitou uma audiência pública para resolver o problema. Apesar da relutância dos empreendedores, a atuação da população fez com que fosse aprovada a modificação no traçado da obra. “É fundamental que haja essa participação prévia, pois, depois que a obra já está em construção, é muito difícil reverter”, ressalta Coletti.
Conscientização necessária
Embora qualquer cidadão possa opinar sobre as questões ligadas ao meio ambiente, apenas uma pequena parte da sociedade civil – aquela vinculada a organizações não governamentais, associações de moradores e líderes comunitários – é representada nessas decisões.
“Infelizmente, uma parcela muito pequena da sociedade é consciente acerca dos problemas ambientais”, lamenta Coletti. Ela acredita que a educação ambiental deve ser a base para reverter o quadro. “Temos notado uma modificação a partir das crianças, que, na escola, são estimuladas a pensar nas questões ambientais”, comemora. “Fora da escola, essa educação precisa acontecer por meio de campanhas e das próprias universidades, que devem esclarecer a população oferecendo cursos de extensão.“
Para Coletti, apesar do destaque dado pela mídia à questão ambiental, as pessoas ainda estão preocupadas somente com o que as afeta diretamente e esquecem dos problemas trazidos pela destruição do meio ambiente, que muitas vezes são de longo prazo.
“Acredito que, se o brasileiro sentisse no bolso, a sensibilização seria maior”, diz a pesquisadora. “Na Europa, se você não leva uma sacola para o supermercado, é necessário pagar por uma. Aqui no Brasil, gastamos inúmeras sacolas plásticas em cada compra. Não há uma preocupação com o destino final desses resíduos. Esse tipo de hábito precisa mudar.”
Tatiane Leal
Ciência Hoje On-line
31/12/2008