Em ano de eleições municipais, uma pesquisa feita na Universidade de Brasília (UnB) revela o que faz um prefeito ser reeleito no Brasil. Os resultados mostram que o partido exerce uma forte influência sobre a chance de reeleição de um candidato e apontam uma surpreendente uniformidade no comportamento do eleitor de grandes e pequenos municípios, em todas as regiões do país.
A conclusão é do cientista político Antonio Lassance, que analisou dados relativos às eleições para prefeito de 1996, 2000 e 2004 em todos os municípios brasileiros. Ele estava interessado em identificar os fatores determinantes para reeleger um prefeito – ou para conduzir ao cargo outro candidato do partido no poder.
Os municípios foram divididos nas categorias pequenos rurais, pequenos urbanos, médios, grandes, capitais e megalópoles (Rio de Janeiro e São Paulo). Dos mais de 5.500 municípios brasileiros, 63,6% apresentaram algum tipo de reeleição em um dos três pleitos monitorados pelo cientista político.
Lassance trabalhou com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da Pesquisa de Informações Básicas Municipais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Este é o primeiro estudo acadêmico feito com os dados dessa pesquisa, uma espécie de censo da gestão pública municipal”, afirma o cientista político.
Ao analisar os dados estatísticos, Lassance constatou que pertencer a um grande partido aumenta significativamente as chances de reeleição. Os grandes partidos têm as maiores taxas de sucesso e as menores de fracasso em reeleições. A recíproca também é verdadeira: os partidos pequenos têm os menores índices de sucesso e os maiores de fracasso.
Entre as eleições de 1996 e 2000, por exemplo, o Partido dos Trabalhadores (PT) – um dos maiores do país – teve a menor taxa de fracasso (22,52%). Já os maiores índices (100% de revés) ficaram com duas siglas de pouca expressão – o Partido Social Democrata Cristão (PSDC) e o Partido Trabalhista Nacional (PTN).
Lassance atribui a influência dos grandes partidos na tentativa de reeleição em grande parte à presença marcante que eles têm nos âmbitos estadual e federal. “Eles têm condições de estabelecer uma rede de apoio que facilita a obtenção de recursos e a implementação de políticas”, explica. “O partido também resume a informação política, como um selo. A sigla traz uma carga de informações muitas vezes maior do que a que se tem sobre a figura do candidato”.
Esses resultados contrariam a visão mais tradicional da ciência política, segundo a qual no Brasil as lideranças políticas têm muita força e as legendas, pouca expressão. “Viramos a página da política do Império e da Primeira República, caracterizada por partidos ditos de notáveis e forte regionalismo, e ingressamos em uma fase na qual as siglas contam muito”, avalia Lassance.
Proximidade entre metrópoles e grotões
O estudo também mostrou que o comportamento do eleitor brasileiro é muito mais uniforme do que se pensava. O padrão de reeleição variou pouco nas diferentes categorias de municípios usadas na classificação de Lassance. As capitais, municípios com maior índice de reeleição, tiveram 23,61%; no outro oposto, os grandes municípios, que menos verificaram essa tendência, tiveram 20,1% de reeleição. São Paulo e Rio, com um índice de 16,67% de reeleições, ficaram excluídas das comparações, por se tratar de megalópoles cujas especificidades não permitem comparações com as demais ou sequer entre elas mesmas.
Uma hipótese descartada pela pesquisa é a de que a melhorar os instrumentos administrativos – aumentar o número de servidores municipais por habitante, por exemplo – seja determinante para a aprovação do eleitor. Tanto os prefeitos que melhoraram a gestão pública quanto os que pioraram, de acordo com critérios do IBGE, tiveram praticamente as mesmas taxas de reeleição.
A importância dada aos partidos e suas articulações com os governos estaduais e federais mostra que o eleitor está atento a esses jogos políticos. “O eleitor ficou mais consciente e informado. Com mais de 20 anos de democracia, somos um povo que discute mais política que antigamente, há um interesse maior”, avalia Lassance. “A cada eleição, o cidadão aprende com seu voto e evita novos erros. Esse processo de aprendizagem não pode ser negligenciado como se o eleitor tivesse parado no tempo.”
Tatiane Leal
Ciência Hoje On-line
09/09/2008