O desprendimento de icebergs tem sido cada vez mais freqüente em várias geleiras do leste da Groenlândia, em decorrência do aquecimento global (fotos: Richard B. Alley).
As previsões alarmantes, reveladas em dois artigos publicados na revista Science da semana passada, foram feitas a partir de um modelo de camadas de gelo criado pela equipe. Para as simulações, foi usado um programa de computador, desenvolvido pelo Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos Estados Unidos para prever o clima.
Com o objetivo de testar a precisão do método, os pesquisadores confrontaram informações naturais sobre o clima do passado (a partir do estudo de sedimentos, fósseis e núcleos de gelo) com estimativas do programa sobre as condições climáticas da época. O último período interglacial, ocorrido há 130 mil anos, foi o escolhido para a simulação.
Verificada a eficácia do modelo, os pesquisadores resolveram adotá-lo para simular a temperatura do Ártico no ano de 2100. O programa revelou que este será o verão mais quente da região em 130 mil anos. O que preocupa é que, na última vez que tais temperaturas foram verificadas, em 127.994 a.C., a Terra estava em pleno período de degelo. O nível do mar era até seis metros mais elevado do que hoje.
Para os cientistas, isso quer dizer que, daqui a menos de cem anos, muitas cidades costeiras poderão sofrer alagamentos severos, que causariam enormes danos materiais e financeiros ou mesmo impossibilitariam a presença humana nesses locais. “Novas tempestades tropicais e furacões, como o Katrina, ocorrido em Nova Orleans, virão ainda mais fortes do que no passado”, alertou Jonathan Overpeck, coordenador da pesquisa, em entrevista à CH On-line .
Agora ou nunca
O derretimento de geleiras na Groenlândia é outro efeito do aumento da temperatura na região.
Se os problemas existem em profusão, as soluções são extremamente complexas. Overpeck considera que mesmo o Protocolo de Kyoto, não assinado por países como os Estados Unidos e a Austrália, é limitado. Para o pesquisador, mesmo se todos os países o assinarem, ainda estaríamos longe de resolver os problemas climáticos do futuro: “Do jeito que foi proposto, Kyoto é apenas o primeiro passo, está longe de ser a solução”, disse. “Temos que reduzir a emissão de CO 2 a menos que o dobro das taxas da era pré-industrial.”
Júlio Molica
Ciência Hoje On-line
27/03/2006